Título: Tragédias e crises marcam o reinício de Cabral
Autor: Moura, Paola de
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2011, Política, p. A7

Do Rio O governador do Rio, Sérgio Cabral, foi reeleito com 68% dos votos no primeiro turno, em outubro do ano passado. Foi sua política de segurança, de ocupação das favelas, a principal responsável pela reeleição. Cabral iniciou o ano tentando atacar seu principal problema dos últimos quatro anos, os péssimos resultados na educação. Nos cem primeiros dias de governo, no entanto, enfrentou mais crises e tragédias do que fez mudanças e correções do primeiro governo. Na campanha, o governador fez duas grandes promessas: acabar com o domínio do crime organizado em todas as favelas do Rio e melhorar o nível de educação das escolas públicas do Estado.

O secretário de Educação foi o primeiro a ser trocado, ainda em novembro, logo após a eleição. Teresa Porto, que foi secretária no primeiro governo, deixou o cargo e, no seu lugar, assumiu Wilson Risolia, um economista, diretor-presidente do RioPrevidência, que foi responsável pela modernização do órgão e que resultou na redução do tempo de concessão de benefícios de um ano para apenas 30 minutos.

Ainda em janeiro, anunciou um pacote de medidas para tentar tirar o Estado do Rio da penúltima colocação no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), exame que mede a qualidade do ensino das escolas de nível médio. Foi instituído um currículo mínimo para todas as escolas, convocados 3 mil professores e chamados ao trabalho aqueles que estavam em licença, além da realização de um concurso para contratar 1.378 professores de física e matemática. Também foi instituído um processo seletivo interno para que cada escola escolha seus diretores e coordenadores, entre outras medidas.

Já na área de segurança, Cabral contratou mais 3,6 mil policiais para trabalhar nas novas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Em fevereiro, mais um complexo de favelas, que incluiu o São Carlos, na Zona Norte, e outras oito comunidades nos morros do Estácio e Santa Teresa, completando 55 favelas ocupadas nos seus dois governos. As operações de ocupação já estão tão organizadas que este último complexo levou apenas uma hora e meia para ser tomado por 846 homens.

Mas foi também na segurança que Cabral enfrentou sua primeira crise deste segundo governo. Pego em grampos da Operação Guilhotina da Polícia Federal (PF) alertando o inspetor Christiano Gaspar Fernandes sobre uma investigação da própria PF, o então chefe da Polícia Civil, o delegado Alan Turnowsky foi afastado do governo e depois indiciado. A operação prendeu 38 policiais civis e militares acusados de participar de milícias e de desviar armas apreendidas em favelas tanto para o tráfico quanto para as próprias milícias.

A saída de Turnowsky foi toda negociada e apresentada publicamente pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, assim como sua substituição pela delegada Martha Rocha. Cabral preferiu não se expor publicamente à crise, mas deu autorização para que a operação ocorresse, sem intervir.

Os cem primeiros dias de Cabral também foram marcados por duas tragédias. Em 12 de janeiro, um temporal causou avalanches de lama e enxurradas em pelo menos 10 municípios da Região Serrana do Rio matando mais de 800 pessoas e deixando outros 800 desaparecidos. O governador, que estava em viagem à Europa, chegou no dia seguinte e foi à região atingida, junto com a presidente Dilma Rousseff ver de perto a situação. Embora o governo do Estado tenha criado imediatamente um gabinete de reconstrução da área atingida, há reclamações de que o ritmo desse restauro tem sido muito lento.

Assim como na enchente da Serra, Cabral também se fez presente com rapidez no massacre de Realengo ocorrido na quinta-feira. Logo cedo, ele foi à escola com toda sua equipe de segurança e deu uma entrevista coletiva se solidarizando com as vítimas. A postura é nova, já que, no réveillon de 2010, o governador foi amplamente criticado por só ir à região de Angra dos Reis, três dias depois que deslizamentos mataram 38 pessoas.

Politicamente, o governador começou o ano com mais apoio na Assembleia Legislativa (Alerj) do que no governo anterior. Em função da grande coalizão que o elegeu, formada por 23 partidos, o governador não tem dificuldades na Alerj. Este ano, ganhou novos aliados, como o PDT, que agora conta com duas vagas no secretariado de Cabral. Em novembro, depois da eleição, o governador nomeou o deputado federal Brizola Neto (PDT) para a Secretaria de Trabalho. No mês passado, Brizola Neto foi convidado a assumir a liderança do partido na Câmara, e por isso foi substituído por Sérgio Szveiter (PDT). O partido também ganhou outra Pasta, com o secretário de Desenvolvimento Regional, Abastecimento e Pesca, o deputado estadual Felipe Peixoto. O último partido a ganhar um espaço no governo Cabral foi o PSC. Ronald Ázaro, presidente regional do PSC, foi nomeado secretário de Turismo.

Mesmo com maioria, o governador não tem se aproveitado da vantagem para mandar novos projetos à Alerj. Nos cem dias, o único projeto polêmico enviado à Assembleia foi o que cria a delação premiada. O projeto de lei permite que o servidor indiciado em um processo administrativo disciplinar possa colaborar com a investigação valendo-se de benefícios de uma punição menos grave, caso apresente novos cúmplices ou provas relevantes.

Nos últimos dias, o governador tem se dedicado a conseguir empréstimos dos bancos internacionais para financiar a reconstrução da Região Serrana e também as obras para Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Com a obra do Maracanã agora estimada em R$ 1 bilhão, depois da condenação da cobertura, e do Metrô para a Barra da Tijuca, com R$ 5 bilhões, o governador já conseguiu R$ 2 bilhões, metade do Banco Mundial (Bird) e a outra metade com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O dinheiro será utilizado para construir casas para desabrigados das chuvas e reconstruir a infraestrutura da Região Serrana. O governador ainda quer R$ 5,3 bilhões para os projetos de infraestrutura.