Título: FMI vê recuperação mundial e descarta recessão e estagflação
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2011, Internacional, p. A12
De Washington O Fundo Monetário Internacional (FMI) rebaixou a sua projeção para o crescimento dos Estados Unidos e do Japão em 2011. O mercado financeiro reagiu com queda nas cotações do petróleo, que estavam nos maiores valores desde 2008. Mas o cenário traçado pelo organismo para a economia mundial é de continuidade da trajetória recuperação, sem o risco de duplo mergulho recessivo nem de estagflação.
O FMI projeta uma expansão de 4,4% na economia mundial em 2011, um pouco abaixo dos 5% observados no ano passado, segundo seu Panorama Econômico Mundial, divulgado ontem. A trajetória é de continuidade no crescimento, com uma expansão de 4,5% em 2012. A projeção do FMI para a economia mundial manteve-se inalterada em relação aos números divulgados pelo organização em janeiro, apesar de eventos negativos mais recentes como o terremoto no Japão e a alta das cotações do petróleo.
O lado negativo das projeções é a queda no crescimento esperado para os Estados Unidos, estimado em 2,8%, ante 3% projetados em janeiro passado. A revisão ocorre depois da divulgação de dados inesperados sobre a economia americana, como a contínua queda nos preços dos imóveis. O FMI, porém, está um pouco mais otimista nas suas projeções para a economia dos Estados Unidos em 2012, que crescerá 2,9%, ante 2,7% da projeção anterior.
As projeções para a expansão do Japão foram reduzidas de 1,6% para 1,4% em 2011, já levando em conta os efeitos do terremoto. Mas o FMI ponderou que as incertezas sobre a situação do Japão são grandes e suas estimativas podem ser revistas. Para o próximo ano, o crescimento esperado subiu de 1,8% para 2,1%. Os Estados Unidos e o Japão são dois importadores de petróleo, por isso as cotações do produto recuaram um pouco diante das projeções do FMI.
A mensagem geral do FMI, porém, é de relativo otimismo. "Havia o risco de um duplo mergulho recessivo", afirmou ontem o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, ao divulgar o relatório. "Nós não compartilhamos esse receio, mas o fato é que ele não se materializou."
Blanchard também disse não acreditar que as economias avançadas vão atravessar um período de estagflação, caracterizado pelo fraco crescimento econômico e alta inflação, em virtude da recente alta de preços de produtos básicos, como o petróleo. "Pode ser que a inflação seja um pouco mais alta por algum tempo, como nossas projeções indicam, mas não esperamos um efeito adverso no crescimento econômico."
Os países desenvolvidos teriam um avanço de preços de 2,5% em 2011, acima dos 2% do ano passado, mas haveria recuo para 2,1% no ano que vem. Na semana passada, o Banco Central Europeu aumentou os juros para combater pressões inflacionárias, e o mercado financeiro espera que os Estados Unidos faça o mesmo entre o final de 2011 e início de 2012.
Segundo Blanchard, a recente alta de preços de commodities elevou o núcleo de inflação em países emergentes, o que significa que altas localizadas de preços estão sendo propagadas para o resto da economia. Mas na Europa, afirmou ele, não houve o mesmo efeito.
O lado negativo da recuperação da economia mundial é que ela continua com duas velocidades. Os países emergentes crescem 6,5%, enquanto que as economias avançadas se expandem a uma taxa de 2,4%. "O desemprego é alto [nos países desenvolvidos], e o baixo crescimento indica que ira continuar assim por muitos anos", disse Blanchard.