Título: Grupo de Jirau vira gigante
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 11/08/2010, Economia, p. 17

Francesa GDF Suez, integrante do consórcio que constrói hidrelétrica em Rondônia, abocanha a britânica IP e figura entre líderes mundiais

A empresa francesa de energia GDF Suez, líder do consórcio da Usina Hidrelétrica de Jirau, em construção em Porto Velho, Rondônia, anunciou ontem a aquisição da britânica International Power (IP), um negócio que resultará na criação de um líder mundial na produção de energia independente, segundo as palavras do próprio grupo, com posições relevantes em regiões de grande crescimento do mundo, incluindo o Brasil. O anúncio da operação de compra pelos dois grupos até agora rivais destaca a criação de um gigante mundial, ao lado das empresas históricas do setor.

A operação, que deve ser concluída até o fim de 2010 ou o início de 2011, será concretizada com a entrega de ativos industriais e o pagamento de dividendos. A Gaz de France (GDF), antigo monopólio público francês privatizado após a fusão com o grupo industrial franco-belga Suez, entregará o departamento de Energia Internacional ao grupo britânico em troca de 70% do capital da IP. Os atuais acionistas da IP conservarão os restantes 30%. A combinação da International Power com a GDF Suez Energy International criará a New International Power, segundo comunicado conjunto das companhias.

Rio Madeira O presidente da GDF Suez, Gerard Mestrallet, destacou que a operação vai criar o maior grupo de serviços ao público do mundo em volume de faturamento, com posições líderes em mercados mundiais em pleno crescimento. Esse acordo criará o líder mundial, com parcelas de mercado fortes na América Latina, na América do Norte, na Europa, no Oriente Médio, na Ásia e na Austrália, afirmou. De acordo com o executivo, a operação combinará a experiência operacional e a flexibilidade financeira, o que permitirá atrair oportunidades de crescimento na infraestrutura energética de mercados internacionais.

A GDF está presente no Brasil, onde é a principal produtora privada de energia elétrica, por meio da empresa Tractebel Energia. No país, seu projeto de maior vulto é a construção da usina de Jirau, no Rio Madeira. O empreendimento terá capacidade para 3.450 megawatts (MW) de potência, mas pode chegar a 3.750MW caso obtenha autorização do governo para a ampliação. No cenário mundial, com a compra da IP, o grupo francês alcançará uma capacidade de produção de eletricidade de 107

gigawatts (GW), contra os 68GW atuais. A América Latina será responsável por uma produção de 10,6GW. A International Power tem 45 centrais elétricas em diversas partes do mundo, seis delas na Grã-Bretanha.

Lucro Em 2009, a IP registrou um volume de negócios de 5,09 bilhões de libras (US$ 7,9 bilhões), contra 79,9 bilhões de euros (US$ 105,2 bilhões) para GDF Suez. A empresa francesa anunciou ainda um lucro líquido de 3,6 bilhões de euros no primeiro semestre de 2010, uma alta de 0,3% em ritmo anual, e um volume de negócios de 42,3 bilhões de euros, também em alta de 0,3%.

Desafio para o Brasil

Mariana Mainenti Enviada especial

São Paulo O próximo presidente da República brasileiro terá que ter preparo para lidar com mais um desafio imposto pelo crescimento econômico: o de garantir que o desenvolvimento ocorra de forma sustentável, reduzindo o desmatamento e criando leis ambientais que delimitem a atuação das empresas, opinou ontem, em passagem pelo país, o professor da London School of Economics Nicholas Stern. Ex-economista-chefe e vice-presidente sênior do Banco Mundial, de 2000 a 2003, ele é autor do principal estudo já realizado no mundo sobre a economia das mudanças climáticas, o Relatório Stern.

A sustentabilidade será um grande desafio para o próximo presidente do Brasil. Na última década, o país começou a crescer e a pobreza recuou. Houve crescimento com redução das desigualdades. Mas, com a economia em expansão, o desafio da sustentabilidade é cada vez maior, afirmou o professor, que manifestou grande preocupação com a preservação da Floresta Amazônica. Fica bem claro que o desmatamento tem sido um problema enorme. O privilégio de o Brasil ter uma floresta como a Amazônica é o que obriga a cuidar dela.

O economista deu ênfase ao potencial do país para a atração de investimentos externos, mas ressalvou que isso aumenta a responsabilidade do governo de criar leis que garantam um setor produtivo enquadrado sob exigências ambientais pré-determinadas. Além da criação de leis reguladoras, ele ressaltou que é preciso combater a extração de madeira ilegal, aumentando o policiamento na Região Amazônica e envolvendo as comunidades locais na atividade. É possível reduzir a pobreza e proteger a floresta ao mesmo tempo, afirmou. Segundo Stern, o governo precisa conseguir reduzir a pressão da agricultura. Aumentar a produtividade por hectare é uma forma de reduzir a pressão por desmatamento, disse.

A repórter viajou a convite do Walmart