Título: Bloco quer ter cumplicidade estratégica com o Brasil
Autor: Watanabe , Marta
Fonte: Valor Econômico, 15/04/2011, Brasil, p. A5

A União Europeia (UE) está empenhada em estreitar as relações com o Brasil. A mensagem é clara em declarações de autoridades diplomáticas e de especialistas da zona do euro ao analisar a intensa agenda prevista para os próximos meses com a visita de autoridades da UE ao Brasil. Parte da agenda está relacionada com a preparação para a reunião em maio, em Assunção, para a qual está prevista uma rodada de negociações antes da apresentação da lista de ofertas para um acordo entre os dois blocos.

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, diz que a UE quer reforçar a parceria com o Brasil. A ideia é não ter apenas uma "parceria estratégica", mas sim uma "cumplicidade estratégica". Entre os reflexos da tentativa de maior aproximação está a visita da alta representante da União Europeia, Catherine Asthon, prevista para maio. Segundo fontes diplomáticas, a UE quer buscar apoio e parceria maior do Brasil em áreas que vão desde as relações comerciais, passam por mudanças climáticas, energia, tecnologia, até temas como informação e segurança internacional.

No fim de abril, o Brasil receberá uma delegação de 14 deputados do Parlamento da UE. Na agenda dos parlamentares está a negociação para que as listas de ofertas sejam realmente apresentadas ao fim de maio ou início de abril, após a reunião no Paraguai.

Os europeus defendem um acordo "ambicioso e delicado", como descreve o deputado Luis Yáñez-Barnuevo García, presidente da delegação para as relações com os países do Mercosul. Os parlamentares europeus deverão encontrar-se com autoridades do governo e com representantes das indústrias com o objetivo de garantir o avanço da negociação.

Qualquer que seja o desenrolar da negociação entre os países da zona do euro e o Mercosul, não há dúvida que o Brasil está inserido no mapa no qual a UE quer se tornar um ator político e diplomático cada vez mais atuante.

O ministro Ronaldo Costa Filho, da missão brasileira na UE, diz que a movimentação da Europa em relação ao Brasil reflete "um novo patamar do Brasil no cenário internacional". Para ele, houve mudanças na forma de tratamento entre os países europeus e o Brasil. "Antes era uma relação mais norte-sul. Hoje é uma parceria estratégica."

A tentativa de aproximação da UE ao Brasil está longe de significar apoio da UE a planos mais ambiciosos de Brasília no plano internacional. Um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) almejado pelo Brasil, por exemplo, é algo que não tem franco apoio no bloco europeu. "Para maiores direitos, há maiores responsabilidades. Não se pode tornar-se um membro do conselho sem alterar sua política de relações externas", diz fonte da UE.

A participação do Brasil nas forças de paz no Haiti, explica essa fonte, conta pontos positivos, mas parece não ser suficiente. "O Brasil atua na manutenção da paz e não na imposição da paz. Ou seja, participa do Haiti, mas não da Líbia."

Apesar das divergências, o pleito do Brasil conta, porém, com o apoio pessoal do presidente da Comissão Europeia. "A UE não tem definição sobre o assunto, mas minha posição é que o Brasil deve ser membro do conselho de segurança. O Brasil é uma das maiores democracias no mundo e pode ser um fator de equilíbrio." (MW)