Título: Países adotam pragmatismo em fluxo de capitais
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2011, Internacional, p. A11

Após muita discussão retórica para a plateia, os países avançados e emergentes chegaram a um acordo para adotar uma postura mais pragmática e menos ideológica sobre controles de capitais, nos bastidores das reuniões do G-20 e do encontro de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial realizados nos últimos quatro dias em Washington.

"Estamos adotando agora uma visão mais pragmática sobre fluxos de capitais", disse a ministra da economia da França, Christine Lagarde. O Brasil também baixou o tom de suas críticas ao que considerava uma tentativa dos países desenvolvidos em criar camisas-de-força para os controles de capitais feitos pelos países emergentes.

Do ponto de vista prático, o G-20 vai mais ou menos repetir o trabalho que já foi feito recentemente pelo FMI. Será feito extensa análise das recentes experiências de controles de capitais adotadas pelos países emergentes, além de uma ampla investigação das causas dos maciços fluxos de capitais, como a política monetária expansionista dos EUA, Japão e Europa.

Nos últimos meses, o FMI fez um trabalho similar que culminou com a divulgação de uma cartilha para lidar com fluxos de capitais. Nela, o órgão prega que os países adotem uma sequência antes de adotar controles, como valorizar as taxas de câmbio quando ela está subvalorizada, comprar dólares quando as reservas são pequenas e baixar juros se a economia não está superaquecida. Não se sabe ainda se o G-20 vai tão longe.

O tema despertou um debate apaixonado na abertura das reuniões. O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, disse que as críticas à cartilha eram ideológicas e feitas por pessoas "mais católicas do que o papa". O ministro da Fazenda, Guido Mantega, acusou os países desenvolvidos de serem os principais responsáveis pela crise atual e de, agora, querer impor o código de conduta a ser seguido pelos países emergentes.

Já na sexta-feira o crime havia esfriado bastante. Mantega resolveu rever o duro discurso que faria no dia seguinte no comitê de ministros do FMI. "Sejam os mercados emergentes, países em desenvolvimento ou desenvolvidos, nós reconhecemos que temos que ser absolutamente pragmáticos sobre o tema da administração de fluxos de capitais", disse o presidente do comitê de ministros do FMI, Tharman Shanmugaratnam.

Negociadores brasileiros disseram que o clima ficou mais ameno porque um lado passou a conhecer melhor a posição de outro. As economias avançadas, de forma geral, reconheceram o direito e a legitimidade de os emergentes usarem os controles de capitais. Os emergentes reconheceram que é necessário parâmetros para assegurar que não sejam cometidos excessos que levem a desequilíbrios globais.

Nos debates dentro do comitê de ministros, países avançados continuaram a pregar regras para os controles de capitais, e os emergentes, plena liberdade. Mas foi uma forma apenas de marcar posição, já que, do ponto de vista prático, há uma aproximação nas negociações.

O comunicado final do FMI nem cita o tema. O G-20 usou uma linguagem neutra e genérica, sem se referir em nenhum momento a códigos de conduta. Em vez disso, o documento diz que os trabalhos tanto sobre a experiência recente de controles quanto para investigar os fluxos de capitais servem para chegar a uma "conclusão". (AR)