Título: G-20 cria plano para evitar desequilíbrios econômicos
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2011, Internacional, p. A11

As economias desenvolvidas e emergentes reunidas no G-20 concordaram em criar um plano para corrigir os desequilíbrios macroeconômicos que levaram à crise econômica recente, durante encontros realizados nos últimos dias em Washington. Mas ainda há muitas dúvidas sobre a eficácia desse entendimento, pois faltam mecanismos para obrigar os países a seguir as recomendações que serão feitas até outubro.

A maior preocupação do G-20 são os fortes desequilíbrios em conta corrente, considerados a principal causa macroeconômica da crise recente, com altos superávits em países como China e Alemanha espelhados por déficits excessivos nos EUA. Para os americanos, a valorização da moeda chinesa é parte obrigatória de um ajuste, enquanto a China sustenta que os juros extremamente baixos nos EUA são o centro do problema.

Em reunião dos ministros da fazenda do G-20 na sexta, foi definido um plano que não toca nesses dois problemas diretamente, mas poderá levar à correção pelo menos da subvalorização cambial chinesa. O Fundo Monetário Internacional (FMI) analisará desequilíbrios fundamentais das principais economias do mundo, como baixa taxa de consumo e alta poupança na China e excesso de consumo e baixa poupança nos EUA.

"Completamos o primeiro passo", disse a ministra da economia da França, Christine Lagarde. "Agora vamos mover para o passo dois, que vai nos ajudar a fazer recomendações para os chefes de Estado em nossa reunião de outubro."

Em fevereiro, numa reunião em Paris, o G-20 já havia concordado em selecionar três grupos de indicadores para determinar se as economias estavam em desequilíbrio: 1) déficit e dívida e pública; 2) poupança e divida privada; 3) externos, incluindo balança comercial e fluxos de investimentos. Dessa vez, em Washington, foi definido quais são os parâmetros usados para julgar se as economias estão em equilíbrio dentro desses parâmetros.

Foram adotados quatro conjuntos de metodologias, incluindo modelos econométricos que vão projetar a evolução das economias dentro desses indicadores, além de três parâmetros puramente estatísticos que basicamente servem para verificar como as economias estão evoluindo em comparação aos seus padrões históricos.

Todos os países do G-20, incluindo Brasil, vão ser avaliados de acordo com essa metodologia. Mas foi selecionado um grupo de sete economias que representam pelo menos 5% do PIB do conjunto das economias do G-20 para receber uma análise mais aprofundada.

Os nomes dessas economias e os critérios de sua seleção não foram divulgados. Mas, de forma reservada, autoridades no encontro revelaram que o grupo é formado por EUA, China, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Índia.

De agora em diante, o G-20 avança para o segundo passo, que consiste basicamente em avaliar as economias com base nesses indicadores, num trabalho a ser feito pelo FMI. Em outubro, os chefes de Estado receberão as recomendações de como corrigir os desequilíbrios. Mas estão livres para não segui-las, pois não há nenhum mecanismo que os obrigue a fazê-lo. O G-20, porém, aposta no poder de pressão dos demais países para avança nessa agenda.

No fim, o mecanismo adotado é uma versão muito mais complicada, penosa e obscura do que o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, havia proposto em fins do ano passado. Ele queria apenas um indicador, o resultado de conta corrente, para apontar mecanicamente os países que precisam reequilibrar sua economia. O Brasil também tem interesse na flexibilidade da moeda chinesa, para evitar efeitos colaterais como a aguda valorização do real, por isso está se alinhando com os EUA nesse debate.

O caminho cheio de curvas adotado pelo G-20 foi a única solução aceita pelos chineses, que fizeram tudo ao seu alcance para selecionar indicadores que estivessem o mais longe possível de sua taxa de câmbio. Nos últimos dias em Washington, a China também exigiu que fossem mantidos em segredo os nomes dos países que vão receber analise mais rigorosa do G-20. A China já vem valorizando sua taxa, mas num ritmo muito lento, e o país anunciou um plano em fins do ano passado para corrigir os problemas do baixo consumo doméstico, alta poupança e excessiva dependência de exportações para puxar o seu crescimento.