Título: Desemprego se mantém quase estável, mas renda volta a aumentar em março
Autor: Otoni, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 20/04/2011, Brasil, p. A4
De São Paulo e do Rio
A taxa de desemprego de 6,5% registrada em março foi a menor para o mês desde 2002, início da série elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O nível de desocupação ficou próximo do de fevereiro (6,4%) e abaixo dos 7,6% de março do ano passado.
Das seis regiões metropolitanas analisadas pelo IBGE, apenas Salvador teve nível de desocupação de dois dígitos no terceiro mês do ano, de 10,5%. No Recife, o indicador correspondeu a 7,6%. Em São Paulo, a taxa foi de 6,9%. Em Porto Alegre, ficou em 5%. Em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, a taxa de desemprego equivaleu a 5,3% e 4,9%, nesta ordem.
A pesquisa do IBGE mostrou ainda que o rendimento médio real habitual dos ocupados, de R$ 1.557, representou o maior valor para o mês de março desde 2002. O montante foi 0,5% maior na comparação com fevereiro e 3,8% mais elevado perante março de 2010.
Segundo Bernardo Wjuniksi, analista-sênior para América Latina da Medley Global Advisors, "o IBGE mostrou um desenho do Brasil dos últimos anos de crescimento acelerado", isto é, menos pessoas desempregadas e salários em alta. "O crescimento do ano passado foi recorde, mas o consumo das famílias, que esteve por trás dele, foi ainda mais expressivo", disse Wjuniski.
A situação de desemprego brasileira destoa da de países ricos como Espanha e Estados Unidos, onde a taxa de desocupação, nos primeiros meses de 2011, ronda 20% e 9,6%, respectivamente. Quando iniciou a série histórica, em 2002, as taxas registradas pelo IBGE eram o dobro das registradas agora. Em São Paulo, por exemplo, o desemprego era de 13,8% em março de 2002, e no mês passado chegou a 6,9%.
Os dados do mês passado também mostraram a continuidade da formalização nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE. O emprego com carteira no setor privado atingiu 48,2% do total de 22,2 milhões de pessoas ocupadas, recorde para qualquer mês da série histórica. Em março, os empregados com carteira assinada no setor privado somaram 10,739 milhões, uma alta de 0,7% em relação a fevereiro - considerada estabilidade pelo IBGE - e um crescimento expressivo de 7,4% frente a março do ano passado.
"O mercado não só formaliza, como está pagando mais. O que se viu no rendimento em março foi um primeiro aumento no poder de compra da população", afirmou Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), ontem durante divulgação do IBGE no Rio. Na média do primeiro trimestre, a taxa média de desemprego brasileira foi de 6,3%, um ponto percentual inferior ao recorde anterior, registrado entre janeiro e março do ano passado. "Entendo que a gente fechou o primeiro trimestre com a taxa média de desocupação inferior ao que fechou no ano passado. Em 2010, a média foi de 6,7%, englobando o mês de dezembro, que puxa a taxa para baixo", disse Azeredo.
Nas contas da LCA Consultoria, a queda na taxa de desemprego em março poderia ser ainda maior não fosse a elevação de 0,3% entre fevereiro e março, com ajuste sazonal da LCA, na população economicamente ativa. Isto é, mais pessoas passaram a demandar emprego no mês passado, o que evitou uma incorporação ainda maior do estoque de trabalhadores no mercado em expansão.
Com alta de 0,5% sobre fevereiro, feito o ajuste sazonal, o rendimento médio real de R$ 1.557 efetivamente recebido pelo trabalhador com carteira assinada nas três regiões ajudou a impulsionar a massa de rendimento médio real em 0,8% entre fevereiro e março. Na comparação com março de 2010, houve expansão de 6,7%.