Título: 4G Americas propõe oferta de redes mistas
Autor: Schnoor , Tatiana
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2011, Empresas, p. B3

As operadoras de telefonia móvel enfrentam um impasse com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) sobre a tecnologia de rede que estará disponível no país para recepcionar o público nacional e estrangeiro que assistirá à Copa do Mundo de 2014 e Olimpíada de 2016. As discussões giram em torno da tecnologia de quarta geração "Long Term Evolution" (LTE), exigida pela agência, e um mix de tecnologias liderado pela a HSPA Plus, que é uma versão da 3G com velocidades de transmissão mais avançadas. As teles querem rentabilizar a rede HSPA, já disponível, antes de fazer investimentos que consideram pesados apenas para 4G.

As empresas de telecomunicações deverão investir R$ 72 bilhões até 2014, a maior parte destinada para suportar a infraestrutura dedicada a suprir os megaeventos esportivos. A projeção foi feita por Francisco Carlos Monteiro Filho, diretor da Telebrasil.

Nesse sentido, as operadoras começam a se organizar para pleitear da Anatel mais alinhamento para que o edital de frequências de 2,5 GHz, para licenças de 4G, considere o que chamam de realidade do setor. A afirmação é de Erasmo Rojas, diretor para a América Latina e Caribe da 4G Americas, organização setorial dos principais provedores de serviços e fabricantes do setor de telecomunicações. Segundo Rojas, a agência montou um cronograma com exigências que as operadoras acreditam ser difíceis de cumprir e economicamente inviáveis. Da forma como está, ele calcula que haverá atrasos e a infraestrutura não estará pronta até o início dos jogos.

O receio do setor é que turistas estrangeiros desembarquem no Brasil com aparelhos de quarta geração, mas a rede não esteja pronta para que sejam usados. Nesse caso, a comunicação seria por 3G, que poderá não suportar a demanda de dados, como imagens e vídeos.

A Anatel prevê a realização do leilão até o fim do ano, prazo que sua direção diz considerar suficiente para que o serviço móvel na nova rede seja oferecido ao mercado. A preparação do edital começou no ano passado e agora seguirá as etapas normais. "Não entendo que estejamos atrasados. A perspectiva de fazer o leilão este ano é razoável para operar na Copa. Estamos dentro do cronograma", garante Nilo Pasquali, gerente de regulamentação de serviços móveis da agência reguladora.

Ao todo, o processo demora até dois anos para ser concluído. Um ano para criação da proposta do edital de licitação, consulta pública, análise de contribuições, avaliação do conselho diretor da agência, publicação do edital, aprovação pelo Tribunal de Contas de União (TCU) e, por fim, a licitação. O segundo ano é para que as operadoras adequem as redes e realizem testes.

Pasquali espera que as discussões com relação ao escopo do edital não comprometam o cronograma previsto: "Mesmo que as discussões se prolonguem, ainda há tempo até o primeiro semestre do próximo ano para o leilão ser feito."

"A Copa não é apenas um projeto de governo. É um projeto do governo e da indústria, por isso, é preciso mais diálogo entre as duas partes", afirma Rojas.

Sem essa possibilidade, a organização que representa as operadoras diz que o custo para implantar uma rede de quarta geração será muito alto, o que poderá ser repassado aos serviços para os usuários. O argumento é que para oferecer a cobertura nacional de LTE na faixa de 2,5 GHz será preciso instalar mais estações radiobase (ERBs). "Não é economicamente viável fazer isso em localidades com menos de 100 mil habitantes. Somente em centros urbanos", destaca Rojas.

Questionada pelo Valor sobre o pleito das operadoras, a Anatel disse que, por ora, não irá se pronunciar sobre o assunto.

A alternativa proposta pelas empresas seria oferecer banda larga móvel para voz e dados com velocidades mais turbinadas encontradas na tecnologia HSPA Plus, evolução natural do padrão HSPA e 3G. Na América Latina e Caribe, o HSPA registrou 36 milhões de assinantes no ano passado. Está presente em 77 redes comerciais em 29 países da região. No Brasil, 59% do total de usuários já usa a tecnologia que se encontra em 76% dos aparelhos e 24% dos modens. O HSPA Plus também está sendo testado por fabricantes e operadoras no Brasil.

Ainda em fase embrionária no Brasil, o padrão LTE é novo em todo o mundo. As primeiras redes comerciais foram lançadas na Noruega e Suécia em dezembro de 2009. Até o fim do mês passado, 19 redes LTE estavam ativas no mundo. A expectativa da 4G Americas é que estejam disponíveis para entrar no mercado cem modelos de aparelhos até o fim do ano. Para efeito de comparação, a japonesa NTT DoCoMo anunciou recentemente a implantação do primeiro serviço de conectividade sem fio do Japão baseado nas tecnologias LTE para internet móvel de ultravelocidade e redes com protocolo internet (IP). O serviço vai atender aos principais centros urbanos de Tóquio, Nagoya e Osaka. A previsão da operadora é que atinja 70% da população japonesa até março de 2015.