Título: Petróleo caro dá fôlego à Venezuela e favorece a reeleição de Chávez
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Fonte: Valor Econômico, 20/04/2011, Internacional, p. A13

De São Paulo

Petróleo na casa dos US$ 100, previsão de retomada do crescimento da economia e uma melhora da avaliação do governo depois de alguns anos de baixa. A campanha de reeleição do presidente Hugo Chávez ainda tem um longo caminho, mas começa com um impulso que poderá ser importante no ano que vem.

O aumento da receita associada às exportações de petróleo dá ao governo o que analistas chamam de "respiro petrolífero". Para uma economia minada por inflação de quase 30% e por apagões frequentes, a cotação do barril é um alento capaz de injetar um fôlego extra ao país. E ajuda a candidatura de Chávez, que disputa mais um mandato em dezembro de 2012. O presidente, eleito pela primeira vez em 1998, ainda não tem opositor definido. A oposição só deve formalizar o candidato em fevereiro.

"Como aqui o Estado é proprietário do petróleo, a alta dos preços significa receita adicional e a possibilidade de mais gastos públicos, o que tende a se importante para a reeleição de Chávez", diz o economista Pedro Palma, professor do Instituto de Estudo Superiores de Administração, de Caracas.

Ele diz que antes do referendo de 2004, no qual Chávez pôs em votação se deveria terminar ou não seu mandato, o governo apostou numa forte injeção de recursos num programa social de sucesso (a Misión Barrio Adentro) que foi decisivo para vitória chavista. "Agora acredito que o governo vai tentar repetir essa estratégia", diz Palma. Ele antevê iniciativas de transferência de recursos e novos benefícios principalmente para camadas de baixa renda, que têm sido a base eleitoral crucial para Chávez.

Um setor que, na visão de Palma, poderá canalizar os recursos do petróleo é o de moradia popular, tratado como uma das prioridades pelo presidente. O governo promete construir 500 mil residências nos próximos três anos.

Os preços do petróleo subiram cerca de 30% desde dezembro. Ontem o barril fechou em Nova York em 108,15 (no contrato para maio) e em US$ 122,33 em Londres. O barril na Venezuela está sempre cerca de US$ 8 abaixo da cotação americana. Numa declaração recente, o presidente apresentou a seguinte previsão: a de que os preços do barril continuarão por mais algum tempo numa trajetória de alta e que se estabilizarão num patamar elevado por causa da situação na Líbia e da alta demanda chinesa. Na semana passada, no entanto, o Goldman Sachs fez uma análise diferente. Disse que os preços do óleo já atingiram um patamar elevado demais e que agora a tendência é de queda.

"Hoje Chávez tem uma vantagem. Ele é o candidato e tem dinheiro", diz Luis Vicente Leon, da empresa da pesquisas e análises econômicas, Datanalisis. "Mas a situação de Chávez nas eleições de 2012 é infinitamente mais frágil do que em qualquer outro processo eleitoral no passado."

É verdade que além da receita do petróleo em alta, a economia deve voltar a crescer este ano. Chávez disse recentemente que a previsão do governo é que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 4%, uma salto depois de dois anos consecutivos de recessão. Palma e outros economistas falam em taxas mais modestas, de 1,5% a 2%.

A Embaixada da Venezuela em Brasília disse que o resultado das eleições não será pautado pelos efeitos provocados pelo alta do barril e, sim, pelas mudanças que estão sendo implementadas pelo governo, incluindo aquelas que buscam tornar o país menos dependente das exportações do óleo. (Com Reuters)