Título: Avanço de populismo gera tensão na Europa
Autor: Taylor, Paul
Fonte: Valor Econômico, 20/04/2011, Internacional, p. A13
Reuters, de Paris
A ascensão do populismo na Europa, motivada pelo rancor público com o impacto da crise financeira, ameaça tornar cada vez mais difícil a resolução dos problemas provocados pela crise da dívida na zona do euro. Também prenuncia represálias a imigrantes e pessoas em busca de asilo, enquanto as sociedades europeias em processo de envelhecimento tentam proteger seus empregos, benefícios sociais e padrões de vida em meio aos cortes dos gastos públicos.
A ascensão do partido Finlandeses Verdadeiros, que nas eleições de domingo saiu da obscuridade para se tornar o terceiro maior partido do país, significa que a Finlândia deverá se tornar um membro mais complexo no bloco do euro.
A principal plataforma da campanha do partido foi a oposição ao socorro financeiro a Portugal, o mais recente país do bloco a pedir ajuda, depois de Grécia e Irlanda. Mas o partido também é contrário à imigração, que é muito pequena na Finlândia. A votação refletiu ainda ganhos dos partidos hostis à imigração muçulmana na Suécia, Dinamarca, Áustria, Holanda, França, Itália e Bélgica.
No norte rico da Europa, o alvo é o custo do socorro aos países endividados da periferia da zona do euro, vistos como culpados de negligência fiscal ou financeira.
Embora nenhum partido populista tenha surgido até agora na Alemanha - a tesoureira relutante da Europa -, os liberais, parceiros da coalizão de centro-direita que sustenta o governo, estão adotando uma postura cada vez mais eurocética enquanto lutam por sua sobrevivência. O debate político na Alemanha é influenciado pelos críticos do euro, que dizem que a UE caminha para uma "união de transferência", na qual países prósperos e bem administrados assinam grandes cheques para países mal administrados e perdulários.
Os liberais querem que o Parlamento alemão vete futuros planos de socorro financeiro, nos moldes da legislatura finlandesa, e alguns querem que um futuro fundo permanente de resgate da UE inclua uma cláusula para a expulsão de países da zona do euro..
O crescente clima "não vamos pagar" no norte da Europa poderá em breve se igualar a um clima "não vamos poupar" nos países altamente endividados. Uma reação pública contra a austeridade e a recessão começa a limitar a capacidade dos governos de implementar as medidas de consolidação fiscal acertadas com a UE e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
O governo de minoria socialista de Portugal caiu no mês passado, após o Parlamento rejeitar medidas de austeridade. Lisboa acabou tendo de pedir ajuda financeira.
Na Grécia, o primeiro-ministro George Papandreou encontra resistência ao aprofundamento dos cortes nos salários e nos gastos públicos e à possibilidade de venda de propriedades do Estado para atender aos credores. Pesquisas de opinião mostram que o partido nacionalista de direita está ganhando apoio. Alguns gregos estão reagindo às medidas de austeridade recusando-se a pagar impostos, pedágios e passagens de transporte público.
A economia não é o único campo de batalha do novo populismo europeu. França e Itália estão às turras sobre como lidar com o fluxo de 26 mil imigrantes da Tunísia e Líbia, provocado pelas turbulências políticas no norte da África.
Ministros do Interior da UE não chegaram a um acordo sobre uma resposta conjunta europeia na semana passada e o governo francês tenta fechar suas fronteiras aos migrantes. Na zona do euro, uma crise poderá estourar no mês que vem, quando os Estados-membros serão solicitados a aprovar um socorro financeiro de ¿ 80 bilhões a Portugal, ou, pouco depois, com o aumento das pressões para a Grécia reestruturar suas dívidas.
As negociações ainda não começaram, e funcionários da UE dizem que Lisboa poderá ter de aceitar condições duras para satisfazer a Finlândia. Mas, mesmo que Portugal feche acordo nos próximos meses, a tensão entre países emprestadores e devedores da zona do euro parece destinada a levar a um sério embate.