Título: Mulher muda arquitetura das oficinas
Autor: Fontes , Stella
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2011, Empresas, p. B4

A crescente participação do público feminino no mercado de serviços automotivos mudou a rotina - e a arquitetura - das redes que prestam esse tipo de atendimento no país. Espaço "kids", cursos de mecânica específicos para mulheres, guias de bolso e contratação de consultoras técnicas já são realidade nas principais redes brasileiras, que enxergaram nas consumidoras um importante potencial de negócios.

Na DPaschoal, elas representam cerca de 25% do total de clientes - em algumas lojas, essa fatia chega a 45% -, ante 12% dois anos atrás. Na concorrente Della Via, a participação também está em torno de 25%. Há cinco anos, contudo, não atingia 10%. "Mais do que consumidora, a mulher é formadora de opinião e interfere nas decisões da família", diz o diretor comercial da DPaschoal, Nelson Bechara.

Não foram apenas os centros automotivos que tiveram de se adaptar à clientela emergente. Também fornecedores de autopeças notaram o crescente interesse das mulheres pelo tema, historicamente relacionado ao universo masculino. "De três anos para cá, cresceu muito o número de mulheres proprietárias de veículos", conta o gerente de Engenharia e Qualidade da Mastra, Valdecir Rebelatto. "Junto com isso, aumentou o interesse delas por assuntos relacionados a manutenção automotiva."

Esse cenário foi captado por uma pesquisa recém-saída do forno feita pela Goodyear, fabricante americana de pneus. O estudo qualitativo, realizado em março, mostrou que os automóveis fazem parte do universo feminino, assim como os cuidados relativos a eles. "A mulher ainda sente que há preconceito no mundo dos pneus, mas ela não liga mais para isso", conta a gerente de propaganda e pesquisa de mercado da companhia, Carolina Vagner.

A pesquisa, que contará com uma segunda fase, de cunho quantitativo, separou as participantes por faixa etária: de 18 a 25 anos, 25 a 34 anos e 35 a 50 anos. Em todos os públicos, afirma Carolina, a tendência está consolidada. Há sete anos, quando foi realizado estudo semelhante, apenas o último grupo mostrava coesão quanto à entrada dos pneus no universo feminino.

Segundo Carolina, a pesquisa também indica como o público feminino decide onde contratar serviços automotivos. "Elas procuram informações na internet sobre pneus e sobre as empresas", conta. Outro fator que pesa na decisão é a conveniência. Centros automotivos que estejam próximos ao trabalho ou à residência, que ofereçam serviços diferenciados e outros atrativos saem na frente na preferência das consumidoras.

Esse diagnóstico também foi feito pela DPaschoal. De acordo com Bechara, as lojas que tem até 45% de sua clientela do gênero feminino são aquelas localizadas em áreas residenciais. Essas foram as primeiras unidades da rede a receber o chamado "Espaço Kids". Hoje, a rede conta com 200 lojas próprias e mais 350 franquias. Entre as unidades próprias, 90 delas têm espaço específico para crianças.

Na Della Via, conta o diretor comercial, Sergio Delamuta, a maior participação das consumidoras não se refletiu em mudanças no espaço físico ou em atendimento diferenciado nas lojas. "Queremos atender bem e receber bem todos os perfis de clientes", afirma. "Assim, não está no nosso foco um atendimento exclusivo para mulheres ou para homens."

Contudo, a necessidade de mais informação por parte do público feminino levou a uma ação específica: ministrar palestras técnicas, a cada dois meses, destinadas ao público feminino, em geral mais questionador na hora da contratação dos serviços. "A mulher é mais desconfiada e não tem medo de fazer perguntas. Nesse sentido, de fornecer mais informações, há um diferencial", explica Delamuta.

Maior revendedora de pneus Pirelli na América Latina, a rede também viu aumentar o número de mulheres no quadro de funcionários. Na área administrativa, quase 50% do grupo de trabalhadores é do gênero feminino. Dentre as lojas - são 54 pontos de venda e outros 30 serão abertos nos próximos dois anos -, 7 são comandadas por mulheres. "Na área de atendimento, 20% são mulheres, independentemente de ser uma loja de pneus de passeio ou de caminhão", afirma Delamuta.

Segundo Bechara, da DPaschoal, no universo dos caminhoneiros, a mulher tem importante papel na tomada de decisão relativa a serviços automotivos. "Enquanto o marido está na estrada, é ela quem cuida do orçamento e da planilha de manutenção do caminhão, que muitas vezes é o bem mais importante da família."

Assim como a Della Via, a DPaschoal oferece, desde 1980, um curso de mecânica básica para mulheres, que abrange noções teóricas e práticas de prevenção, utilização adequada dos itens do veículo e direção defensiva. "É preciso adotar práticas específicas para atrair o público feminino. Como a mulher não é uma "entendida", ela pergunta mais, quer informações mais detalhadas", analisa Bechara.

Na Mastra, fabricante de autopeças, a maior procura de informações por parte das consumidoras chamou atenção no ano passado, sobretudo em São Paulo. Para Rebellato, essa tendência está relacionada à inspeção veicular. "A mulher assumiu, definitivamente, a manutenção de seu carro".