Título: IOF restringe oferta de moeda no câmbio à vista
Autor: Campos, Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 20/04/2011, Finanças, p. C2

O pregão de terça-feira confirmou que a valorização do dólar na abertura da semana não passou mesmo de um "espasmo de alta", ou, como dizem alguns operadores, "o último suspiro do morto".

A moeda americana devolveu todo o ganho da segunda-feira e caiu um pouco mais ante o real. O dólar comercial caiu 0,88%, para R$ 1,576 na venda, mínima do dia.

A divisa também perdeu para o euro e outras moedas. O Dollar Index, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas, caiu 0,60%, a 75,06 pontos. Já o euro ganhou cerca de 0,80%, a US$ 1,433.

De fato, os vetores para o dólar fraco seguem existindo e ao que parece o mercado ainda não trabalha com sua retirada. O Federal Reserve (Fed), banco central americano, segue comprado títulos do Tesouro e o juro é zero sem perspectiva de mudança no curto prazo.

De volta ao "front" local, chamou atenção dos agentes um fenômeno pouco comum no mercado de câmbio. O dólar futuro foi negociado abaixo da cotação do dólar pronto. Isso é pouco usual, pois, por definição, o preço futuro seria formado pelo preço à vista mais prêmio decorrente do prazo do contrato.

IPCA-15 pode mudar apostas quanto à reunião do Copom

Tal distorção sugere uma falta de dólar pronto no mercado. Se esse ativo está mais escasso, seu preço é maior do que o futuro, onde não há restrição de oferta.

Segundo operadores locais e externos, tal cenário de menor oferta de dólar à vista é reflexo das medidas do governo para conter o fluxo de dólares de curto prazo para o país.

Essa distorção no mercado do dólar pronto contra o futuro, conhecido como casado, também tem implicações sobre outros contratos, como o de cupom cambial (DDI - juro em dólar).

Essa taxa de juros em dólar no mercado local está subindo de forma acentuada. Esse aumento no cupom acaba desencorajando arbitragem de curto prazo, ou seja, não está tão vantajoso vir ganhar a diferença entre juros externos e internos em operações inferiores a seis meses, por exemplo.

Considerando que o vendedor de dólar (por consequência tomador de real) é uma pagador de taxa em dólar, a arbitragem sofreu um baque significativo, pois essa taxa em dólar está muito maior.

Outra forma de observar isso é via contratos de NDF ("Non Deliverable Forward" - contratos a termo de moeda sem entrega física). A curva de NDF do real está apontando para baixo (mostrando menor depreciação cambial implícita), indicando menor ganho de arbitragem para uma mesma taxa de juros.

Uma indicação clara de que está menos atrativo fazer o famoso "carry trade" no Brasil é que essas curvas de NDF (NDF points) para o real, peso mexicano e dólar australiano estão oscilando praticamente no mesmo patamar, apesar das distintas taxas de juros em cada uma dessa economias.

No entanto, vale ressaltar, novamente, que esse quadro só é valido para arbitragem de curto prazo. Olhando a curva NDF para seis e 12 meses, o real ainda é, disparado, a melhor opção de arbitragem ante o peso mexicano e o dólar australiano.

A questão é que essa distorção técnica de curto prazo carrega alguns riscos. Caso haja uma piora repentina de cenário internacional e a demanda por dólar pronto aumente de forma significativa, o Banco Central (BC) pode ser ver obrigado a ofertar dólares no mercado.

Passando para os juros, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15), que sai agora pela manhã, pode mudar ou consolidar as expectativas quando ao resultado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de hoje. A estrutura a termo de juros passou a mostrar maior probabilidade de alta de 0,25 ponto, apesar de ainda haver divisão entre os agentes do mercado.

Segundo o sócio da Platina Investimentos, Marco Franklin, a inflação oficial deve ficar ao redor de 0,80%.

Cabe ressaltar que qualquer surpresa negativa, ou seja, leituras acima de 0,83%, já coloca a prévia da inflação oficial acima do teto da meta de 6,5% no acumulado em 12 meses.

Olhando adiante, Franklin aponta que o cenário que se forma é favorável à inflação mais moderada. Os preços no atacado agrícola já mostram variações negativas nos últimos 30 dias. Fora isso, a valorização do real ultrapassa a alta em dólar do índice de Goldman Sachs de commodities agrícolas, ou seja, não há pressão de preços em reais.

O ponto de incerteza são os combustíveis, mas o preço do álcool já dá sinais de possível queda. E desde que uma alta da gasolina seja equilibrada por um corte da Cide (imposto que incide sobre o combustível), o impacto líquido pode ficar próximo de zero.

Ainda de acordo com Franklin, o front que não dá trégua é o de serviços, que segue com preços apontando para cima.

Eduardo Campos é repórter