Título: Expectativa é desafio do Copom
Autor: Bittencourt, Angela ; Campos, Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 20/04/2011, Finanças, p. C3

De Brasília

O resultado da reunião de hoje do Comitê de Política Monetária (Copom) será decisivo para o Banco Central retomar ou não o controle das expectativas de inflação. O mercado, nos últimos dias, dividiu-se entre uma elevação de 0,25 ponto percentual na taxa Selic - que seria mais coerente com o que o Banco Central procurou mostrar no último Relatório de Inflação - e uma elevação de 0,5 pp - decisão compatível com o quadro preocupante da inflação corrente.

Os prognósticos do mercado apontam para uma variação de 6,29% no IPCA deste ano e de 5% em 2012, meio ponto percentual acima do centro da meta. As novas decisões da política monetária serão tomadas com os olhos voltados para a meta de inflação do próximo ano. É nesse objetivo que o BC está focado agora.

O Relatório de Inflação divulgado em março mostrou que tanto no cenário de referência (juros constantes em 11,75% ao ano) quanto no de mercado, o IPCA convergiria para o centro da meta em 2012. Portanto, uma leitura bastante plausível do documento é de que não há razão para novos aumentos nos juros básicos.

O BC, porém, por mais de uma vez recomendou a leitura cuidadosa da página 94 do relatório, especialmente no terceiro parágrafo onde ele diz que conforme as perspectivas da desaceleração da atividade doméstica e da evolução do complexo ambiente internacional, "a estratégia de política monetária pode eventualmente ser reavaliada, em termos de sua intensidade, de sua distribuição temporal ou de ambos".

Os sinais de desaquecimento da economia ainda são tênues e só agora os dados do mercado de trabalho começaram a dar sinais de certa acomodação, após um longo período de pressão de demanda por mão de obra. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram demitidos 1,67 milhão de trabalhadores no mês de março. Ainda é cedo, porém, para se afirmar que a economia, de fato, desaqueceu.

As expectativas de inflação para este ano vêm se deteriorando desde o segundo semestre do ano passado. Também as expectativas para 2012 começaram a piorar e já apontam para um IPCA de 5% para o próximo exercício.