Título: Fundador do PSDB paulista, Feldman deixa legenda
Autor: Agostine Cristiane,
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2011, Política, p. A7

Um dos fundadores do PSDB e dirigente nacional do partido, Walter Feldman deixou ontem a legenda, em um ato que aprofundou ainda mais a crise dos tucanos em São Paulo. "Os ouvidos moucos de lideranças como Geraldo Alckmin não ouvem, mas o partido desviou de seu rumo. Fernando Henrique [Cardoso] tem apontado isso, a saída dos vereadores do PSDB aponta isso", disse Feldman ao Valor. Ligado ao ex-governador José Serra, Feldman integra a gestão de Gilberto Kassab na prefeitura da capital, mas nega que vá para o PSD. "Minha formação é de esquerda. É muito improvável". Há duas semanas, Feldman almoçou com Guilherme Leal, vice de Marina Silva (PV), terceira colocada na eleição presidencial de 2010. "Foi um contato maravilhoso. Fui para conhecer o que de melhor se apresentou na eleição. Uma visão moderna, esclarecida de sociedade".

Feldman era do grupo do PMDB que deixou o partido para criar o PSDB, em 1988. Na gestão de Mário Covas (1995-2001), ocupou a Casa Civil. Quando Serra assumiu a Prefeitura de São Paulo, em 2005, assumiu um cargo estratégico no governo municipal, ao comandar a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras. Serra deixou o governo para se candidatar ao Estado e Feldman continuou na gestão de Kassab, como secretário de Esportes. Foi escolhido recentemente secretário especial da Comissão de Procedimentos Administrativos da prefeitura, que observará os preparativos da cidade de Londres para os Jogos Olímpicos de 2012.

A exemplo dos seis vereadores que deixaram a sigla na semana passada, Feldman apoiou a reeleição de Kassab, em campanha contra Geraldo Alckmin (PSDB), em 2008. "Se o Alckmin não tivesse essa mania de querer ser candidato de tudo, o PSD nem existiria hoje. Estariam todos unidos", avalia Feldman. À época, o deputado estadual Pedro Tobias protocolou pedidos de expulsão de Feldman da legenda nos diretórios nacional, estadual e municipal, que foram arquivados. "Mas a moléstia vem de antes. Em 2004, Alckmin apontou o Saulo [de Castro, então secretário de Segurança, hoje em Transportes] como seu candidato a prefeito. Imagina, um homem de práticas violentas na gestão pública", diz o ex-tucano. Em dezembro de 2010, depois de não se eleger deputado federal - recebeu 105.085 votos, sendo 90.149 deles na capital - a saída foi selada.

Alckmin evitou comentar a saída de Feldman. Desejou, laconicamente, "que seja feliz, que possa se realizar em seu novo partido".

Entre os tucanos que permanecem no partido, o clima é de frustração. "Fomos incapazes de encontrar uma forma de entendimento", desabafa o ex-governador Alberto Goldman. "O partido não foi capaz de encontrar espaço para todos os grupos. Lamento pela falta de compreensão, de lado a lado". Goldman nega rumores de que também estaria de saída do PSDB para o partido de Kassab. "Não há essa hipótese. Não me convidaram e, se convidarem, receberão essa resposta".

O partido caminha desunido para a convenção estadual, no início de maio, e a crise interna pode se aprofundar na disputa por um nome que represente o partido em 2012, na eleição à Prefeitura de São Paulo. "Serra já deixou claro que não será candidato em 2012. Temos que buscar outro nome e unidade interna", observa Goldman.