Título: Preocupa menor disposição de investir das indústrias
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2011, Opinião, p. A10

Merece ser analisada detidamente pesquisa recente que mostra a disposição do setor industrial em reduzir seus investimentos neste ano, conforme publicou o Valor na sua edição de ontem. É uma informação desalentadora em qualquer circunstância já que o Brasil continua carente de investimentos no setor produtivo, mas mais ainda numa fase da economia brasileira em que a inflação voltou a ser uma preocupação generalizada e a oferta de mais produtos poderia ajudar a segurar o avanço dos preços a médio e longo prazos.

Segundo o levantamento a que o Valor teve acesso, o que estaria afastando os empresários de aumentar os investimentos nas suas próprias indústrias seria a combinação de três fatores: a maior concorrência do produto importado, os juros em alta e a carga tributária elevada. São três razões de peso, três problemas sérios para os industriais e para o país como um todo, três questões cuja equação não é fácil. Ao contrário, representam três dos maiores desafios à política econômica da presidente Dilma Rousseff, ao lado da volta de índices inflacionários mais elevados. Há décadas os governos do país se empenham em estimular o aumento dos investimentos do setor privado como uma forma de garantir a continuidade do processo de crescimento econômico. E houve, de fato, melhoras recentes nesse sentido - segundo o IBGE, a taxa de investimento em 2010 foi de 18,4% do PIB, superior à taxa referente ao ano anterior (16,9%). O resultado ainda deixa, porém, a desejar já que tradicionalmente se considera como ideal uma taxa de 20% do PIB.

Entre os fatores que mais limitam o investimento, três quartos das empresas reclamam da carga tributária elevada, oito pontos percentuais a mais que os 67% de 2010. A taxa Selic, em alta neste ano, é motivo de queixa de 45% das companhias consultadas, um forte aumento em relação aos 31% do ano passado. A perda de mercado para produtos importados, por fim, prejudica as inversões de 31% das indústrias - em 2010, eram 22%.

A pesquisa sobre intenções de investimentos foi realizada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) com 1.220 empresas paulistas, das quais boa parte tem atuação também em outros Estados. E chegou-se à conclusão que os investimentos em máquinas e equipamentos, instalações, inovação, gestão e pesquisa e desenvolvimento devem atingir R$ 167,1 bilhões em 2011, 4,7% a menos do que o registrado no ano passado.

A queda nas intenções de investimento neste ano é maior nas empresas de grande porte, de 5,6%, para R$ 127,2 bilhões. As médias, por sua vez, devem investir R$ 26,3 bilhões, ou 3,3% a menos que no ano passado. Só nas pequenas deve haver aumento, de 1,1%, para R$ 13,7 bilhões.

Além da queda no volume a ser investido, a pesquisa deste ano indica uma estratégia mais defensiva da indústria de transformação: o investimento deve focar principalmente em redução de custos, aumento da eficiência e diferenciação dos produtos, e não em elevar a produção, como explica o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho. Segundo ele, a perspectiva de que o câmbio siga valorizado por muito tempo afeta a competitividade das exportações brasileiras e facilita a entrada de produtos importados. Também atingidas pelo novo ciclo de alta dos juros e pelos pesados custos tributários, as empresas manufatureiras deverão deixar em segundo plano o aumento dos volumes de produção.

Numa enquete com respostas múltiplas, em que é possível assinalar mais de um item, a diminuição de custos aparece como o principal objetivo do investimento em 2011, citado por 58% das empresas entrevistadas, um avanço considerável em relação aos 50% de 2010. Em segundo lugar, aparece a intenção de aumentar a produtividade, que subiu de 45% para 52% neste ano. Já o aumento do faturamento e da rentabilidade, apontado em 2010 como o principal objetivo da indústria, citado por 61% dos entrevistados, aparece como uma das prioridades apenas para 49% neste ano.

Dos R$ 167,1 bilhões que as indústrias consultadas planejam investir neste ano, a maior fatia, de R$ 122,4 bilhões, será destinada a máquinas e equipamentos e instalações. Esse valor, porém, é 7,3% inferior ao registrado no levantamento de 2010.