Título: Latino-americanos devem buscar ganhos de produtividade
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2011, Brasil, p. A4

Aumento de produtividade, com investimentos em infraestrutura, educação e ciência e tecnologia serão fundamentais para que os países latino-americanos aproveitem o momento positivo em suas economias, alertou, em entrevista ao Valor, o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Luis Alberto Moreno. Ele veio ao país para participar, com cerca de 700 executivos de grandes empresas e instituições, do Fórum Econômico Mundial - versão América Latina, que se realiza no Rio de Janeiro. "Essa é a década da América Latina", insiste Moreno, citando o tema do Fórum, neste ano.

"Temos uma série de produtos que o mundo demanda hoje em dia, em quantidades importantes", lembra o presidente do BID, ao prever que não há perspectiva para queda significativa de produtos básicos como petróleo, grãos e minerais produzidos no continente e demandados em quantidade crescente, principalmente pelos países asiáticos onde aumenta a população de classe média, com hábitos mais sofisticados de consumo.

As receitas obtidas com produtos básicos, apesar de vistas como uma ameaça às indústrias, por trazer pressões inflacionárias e valorização das moedas locais, também poderão, segundo acredita Moreno, dar aos países da América Latina condições de construir uma economia "do século XXI", com maior peso dos serviços, vinculados a educação, ciência e tecnologia e infraestrutura. Os governos têm papel importante nessa mudança, a começar pela necessidade de aumentar investimentos em ciência e tecnologia, aponta ele.

"O Brasil é quem mais investe, mas os investimentos em ciência e tecnologia na região estão bem abaixo do que fazem outros países em desenvolvimento", critica o executivo. O investimento no setor feito pela Coreia é superior a todos os investimentos dos países latino-americanos em ciência e tecnologia, compara.

Moreno cita estudo recente do BID, segundo o qual o principal problema de produtividade na América Latina está no setor de serviços, que representa 70% do mercado de trabalho e que seria capaz de duplicar a produtividade dos países da região caso eles tivessem seguido o desempenho dos países asiáticos. O mau desempenho da produtividade da indústria também é problemático, analisa o BID: sofreu queda anual de 0,9% entre 1975 e 1990, e crescimento de apenas 2% anuais entre 1990 e 2005, enquanto os asiáticos registravam crescimentos entre 3,2% e 3,5% por ano nesses períodos.

Dos países latino-americanos, apenas o Chile teve produtividade média acima dos Estados Unidos desde 1960, e o Brasil ficou entre os que tiveram menor queda, 2%, quando comparado à produtividade americana. Enquanto isso, a China teve aumento de 216%. Se os países da região tivessem acompanhado a média de produtividade do resto do mundo, poderiam ter aumentado em 54% sua renda per capita, calcula o BID.

"Uma área que poderia gerar um valor importante para a região é a integração econômica, a própria interconectividade dos países e a queda de tarifas", sugere o presidente do BID, que pretende destinar mais recursos e estimular pesquisas para projetos nesses setores. Ele afirma que a maior integração poderia aumentar em 40% o comércio entre os países da região, segundo revela estudo em conclusão no banco.

Só em investimentos para integração física, em redes de transporte, o BID calcula serem necessários investimentos equivalentes a 1,1% anual do Produto Interno Bruto Regional durante a próxima década. A taxa de retorno dos investimentos em estradas, ferrovias e hidrovias chega a 70%, com geração de receitas fiscais e redução de custos aos consumidores, segundo cálculos apresentados na última reunião de ministros da Fazenda dos países do BID, realizada há um mês, no Canadá. Para o BID, a demanda por produtos da região e o próprio impulso gerado pelo consumo das classes médias emergentes na América Latina fez aumentar o valor da integração, com investimentos em conexões físicas e reformas na burocracia para facilitar transações entre os países.

"Há ainda temas de conjuntura, como a necessidade de consolidação fiscal, mas estamos em um grande momento para a América Latina", disse Moreno. O BID é um dos co-patrocinadores do Fórum Econômico, que começa hoje, no Rio de Janeiro. Moreno aposta que as multinacionais latino-americanas (assunto de um dos painéis do Fórum, amanhã) têm condições de rivalizar com investidores da China, Estados Unidos e Europa como fonte de investimento na região.

"Não só as grandes, mas as médias empresas estão ampliando as operações e temos de trabalhar muitíssimo para que se tornem maiores", defende ele, que constata uma maior presença de executivos latino-americanos treinados nos países desenvolvidos, de volta a seus países de origem. "Esse é um dos motivos do êxito da Índia", comentou.