Título: Isolado, Dutra sai da presidência do PT
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2011, Política, p. A7

Ex-senador, ex-presidente da Petrobras e da BR Distribuidora e chefe da campanha eleitoral da presidente Dilma Rousseff, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, não voltará ao cargo do qual está licenciado desde 22 de março, oficialmente por causa de uma crise de pressão arterial. A saída de Dutra, que já era esperada na cúpula do governo e do PT, foi anunciada pelo ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais) ao final da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) realizada ontem.

"A informação é que Dutra não voltará", disse Luiz Sérgio aos conselheiros do CDES. Segundo o ministro, o nome mais cotado para assumir no lugar de Dutra é o do senador Humberto Costa (PE), líder da bancada do PT no Senado, mas o presidente em exercício, deputado estadual Rui Falcão (SP), também pode permanecer à frente do partido.

Desde a saída, o afastamento de Dutra é motivo de especulações em Brasília. Ele teve um pico de pressão alta, que motivou o primeiro pedido de licença, pelo prazo de dez dias. Uma depressão justificou a renovação do pedido até o dia 25, segunda-feira passada. Antes mesmo do encerramento do prazo já se dizia no PT que Dutra não voltaria.

Um dos motivos, segundo apurou o Valor, é, de fato, o tratamento de uma crise de hipertensão. Mas Dutra na realidade está insatisfeito pelo fato de ter sido o único integrante do comitê de campanha de Dilma a não ser chamado para o governo. Uma hipótese seria a nomeação para o ministério do senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE). Dutra, primeiro suplente, assumiria em seu lugar. Fontes credenciadas do PT asseguram que a presidente Dilma Rousseff tentou mais de uma vez levar Valadares para o ministério, mas o senador sergipano sempre impôs uma ou outra condição que inviabilizaram a sua nomeação.

Sem condições de levar Valadares para o governo e abrir a vaga no Senado para Dutra, a presidente teria prometido um "tratamento de ministro" ao presidente do PT. Ela estaria acessível sempre que ele precisasse falar com ela. "Não esquenta, fico no PT", disse Dutra, então, à presidente.

Mas a exemplo do que aconteceu com outros ministros - alguns dos quais ainda hoje não foram recebidos pela presidente - Dutra passou praticamente à margem das decisões de governo.

Em março ele teve a crise hipertensiva, seguida de uma crise de depressão. O assunto era tratado como "pessoal" no PT e no Palácio do Planalto, até que se tornou conhecido um comentário atribuído à mulher de Dutra: "A campanha política quase matou o meu marido, e ele não teve recompensa nenhuma."

O afastamento de Dutra coincide também com uma mudança de "eixo no Nordeste", segundo petistas que acompanham desde o início o incidente Dutra. Traduzindo: na passagem do governo Lula da Silva para o de Dilma Rousseff, o governador Marcelo Déda (SE), compadre de Lula, cedeu o lugar de principal referência na região para o governador da Bahia, Jaques Wagner. O governador baiano não só manteve o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, seu afilhado político, como indicou ou apadrinhou mais de um ministro no governo - Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário), Mário Negromonte (Cidades) e Luiza Bairros (Igualdade Racial).

Primeiro-secretário da Assembleia Legislativa de São Paulo, o deputado Rui Falcão tem dificuldades práticas para assumir a presidência do PT, cargo que requer de seu ocupante uma presença nacional. Mas sua permanência não está inteiramente fora de cogitação.

O estatuto do PT prevê que, em caso de mais de 180 dias de vacância, seja escolhido um novo nome dentro da mesma corrente que elegeu o presidente do partido. Falcão é de outra tendência. Mas pode ficar, se o PT avaliar que é melhor evitar o desgaste de uma eleição agora. De qualquer forma, em setembro o partido realizará um Congresso Nacional. Mas na cúpula partidária há quem julgue "ruim levar a decisão para o Congresso Nacional - isso abriria uma disputa desnecessária. É melhor resolver com base no estatuto do partido para evitar mais complicações", diz um petista.