Título: PV acusa Marina de abandonar código
Autor: Junqueira ,Caio
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2011, Política, p. A10

A iminente aprovação do projeto substitutivo do Código Florestal na próxima semana foi o pretexto para um acirramento na disputa interna do PV entre o grupo do atual presidente, deputado José Luiz Penna (SP), e o intitulado Transição Democrática, liderado pela ex-candidata a presidente Marina Silva.

O motivo é que, nos últimos dias, ciente da provável vitória dos ruralistas contra os ambientalistas na votação que deve ocorrer na quarta-feira, a bancada do partido na Câmara dos Deputados, majoritariamente ligada a Pena, começou a se incomodar com o que classificou de distanciamento de Marina no debate e nas articulações internas contra o substitutivo do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). A ex-candidata a presidente tem se dedicado mais à disputa interna pelo comando do partido.

Segundo deputados do partido, que não querem se identificar para não se expor em críticas a uma pessoa como a ex-senadora pelo Acre, Marina nas últimas semanas passou a se preocupar mais em angariar apoio interno no duelo que trava com o grupo de Penna do que com a difícil negociação com os ruralistas.

Não utilizou, portanto, do capital político de quase 20 milhões de votos obtidos nas urnas em 2010, tampouco do fato de ser considerada umas das principais referências da área no mundo.

A cizânia teve seu ponto-chave em um telefonema de Marina ao líder da bancada, Sarney Filho (MA), anteontem. Ela lhe cobrou explicações sobre as imagens em que aparecia sorrindo ao lado de Aldo, após este dar declarações de que o Código não forçava o desmatamento. Sarney Filho não gostou e saiu com a impressão, segundo correligionários, de que ela está alheia e desinformada sobre os aspectos técnicos e políticos do debate do Código.

Ontem, ao Valor, Marina refutou as críticas e disse que tem focado o debate sobre o Código Florestal com a sociedade, em especial movimentos sociais e ambientais, e não no Congresso. "Saí do Congresso em janeiro. Não parei de dialogar com quem se dispôs a dialogar. Mas não tenho síndrome de onipotência. Faço as coisas respeitando o processo. Não sou mais deputada, senadora ou ministra. E acho que agora a discussão tem que estar na sociedade ou vira diálogo de surdo-mudo. No Congresso, os convertidos a suas posições já estão convertidos. Neste momento é a hora da sociedade se mobilizar", disse ela, que confirmou uma entrevista coletiva sobre o assunto neste domingo, no Rio.

Para ela, as críticas podem decorrer do debate interno por que o partido passa e que o fato dos seus autores não se manifestarem "só mostra que elas não são verdadeiras". "Tenho me manifestado em todos os lugares que vou. Não parei de falar disso. Fui a única que permaneceu falando disso depois da eleição. As vezes que pude falei com o ministro Palocci", afirmou.

Marina defende o adiamento tanto da votação na Câmara na próxima semana como do prazo previsto no decreto de crimes ambientais que possibilita, a partir de 11 de junho, a cobrança de multas e punições contra o desmatamento. A proximidade desse dia tem sido dado como justificativa para a necessidade da apreciação pelo plenário na próxima semana. A ex-ministra contesta.

"A mobilização terá de ser pelo adiamento e o governo assumir uma posição sobre o que fazer com o serviço florestal brasileiro. É o momento de pedir à Câmara que não vote e que o governo apresente uma proposta que contemple os interesses de ambientalistas, ruralistas e principalmente dos cidadãos."

O mais próximo aliado de Marina na Câmara, deputado Alfredo Sirkis (RJ), disse que Marina tem discutido o Código o tempo todo, mas que "nem tudo o que acontece aparece". "Nem tudo o que a gente faz a mídia noticia", declarou. Dois representantes de organizações ambientais ligadas à ex-candidata a presidente, Mauro Mantovani, da SOS Mata Atlântica, e Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental, também afirmaram que Marina tem sido importante no debate do Código Florestal.