Título: Ata do Copom muda o tom e indica que aperto monetário prosseguirá
Autor: Oliveira , Ribamar
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2011, Finanças, p. C10
A opção por um ajuste "suficientemente prolongado" da taxa de juros, anunciada pelo Banco Central, decorre das "incertezas quanto ao grau de persistência das pressões inflacionárias recentes e da complexidade que envolve hoje o ambiente internacional", segundo a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem. Como exemplo dessas incertezas, o Copom informou que espera alta de 2,2% nos preços da gasolina no mercado interno este ano. Antes, a expectativa do Comitê era de que não haveria qualquer reajuste.
Dois integrantes do Copom votaram a favor da elevação da Selic em 0,5 ponto percentual, enquanto a maioria votou a favor do aumento de apenas 0,25 ponto. Mesmo com essa divergência, a ata diz que houve unanimidade na avaliação de que a estratégia mais adequada é prolongar o ciclo de ajuste monetário, sem dar indícios sobre o prazo ou intensidade.
A ata foi mais clara sobre a mudança de estratégia do Copom. No comunicado divulgado logo após a reunião do último dia 20 de abril, o Comitê falou em implementar "ajustes das condições monetárias", enquanto a ata informou que a decisão é de que "o ajuste total da taxa básica de juros, a partir desta reunião, deve ser suficientemente prolongado". O Copom realçou a convicção de que a taxa de juros é o melhor instrumento para o controle da inflação, "embora reconheça que outras ações de política monetária podem influenciar a trajetória de juros". Nas atas duas atas anteriores, a ênfase foi ao uso das ações macroprudenciais.
Segundo o BC, o conjunto de informações disponíveis sugere que a aceleração de preços observada em 2010 mostra persistência, em parte porque a inflação dos serviços segue em patamar elevado. "
Embora a avaliação seja de que os preços ao consumidor já incorporaram parcela substancial dos efeitos dos choques de oferta domésticos e externos, o Copom ponderou que as pressões localizadas decorrentes da concentração atípica de reajustes de preços administrados no primeiro trimestre, ainda deverão impactar a dinâmica dos preços aos consumidores, entre outros mecanismos, via inércia decorrente da indexação.
O Comitê considerou como relevantes os riscos do descasamento entre as taxas de crescimento da oferta e da demanda, "apesar dos sinais de que esse descompasso tende a diminuir". A diretoria colegiada do BC alertou que, na atual situação de escassez de mão de obra, um risco importante para a inflação reside na possibilidade de concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade da economia.
Pela primeira vez os integrantes do Copom chamaram a atenção, também, para o perigo que a política de crédito subsidiado representa para a inflação, numa crítica velada ao Ministério da Fazenda que nos últimos anos repassou vultuosos recursos para o BNDES emprestar a juros módicos. Segundo a ata, é "oportuna a introdução de iniciativas no sentido de moderar concessões de subsídios por intermédio de operações de crédito".