Título: Inflação assusta estrangeiro e turva cenário para Ibovespa
Autor: Monteiro , Luciana
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2011, Investimentos, p. D2

O fraco resultado da bolsa neste ano já está fazendo com que alguns analistas comecem a rever as projeções para o Índice Bovespa. A inflação em alta pressiona os custos da maioria das empresas brasileiras e nem todas conseguem repassar isso para os preços, afetando os lucros futuros.

Otimista no início do ano, Otávio Vieira, diretor de investimentos da Safdié Gestão de Patrimônio, estimava um Índice Bovespa entre 75 e 78 mil pontos em dezembro. "Agora, se chegar a 73 mil está bom demais", afirma. "Com o estrangeiro saindo da bolsa, fica difícil esperar algum gatilho para o Ibovespa subir no curto prazo", avalia.

A desconfiança dos investidores externos pode ser vista também nos Credit Default Swap (CDS) - que indicam as expectativas do mercado quanto à capacidade de empresas e países em cumprir seus pagamentos - brasileiros com prazo de dez anos, que subiram quase 40% de outubro do ano passado para cá. "O mercado se mostra preocupado com a gestão de corte de custos do governo, num momento que o crescimento exige investimento em infraestrutura", diz. "O cobertor é curto."

A atuação do Banco Central (BC) do segundo semestre do ano passado para cá tem sido, no mínimo, bastante polêmica e bem diferente daquela vista durante a gestão de Henrique Meirelles, afirma Vieira. Na visão dele, o BC "virou torcedor", acreditando que conseguirá atingir a meta de inflação no ano que vem. "Falta de mão de obra é inflação na veia, porque a pessoa vai ganhar mais e, consequentemente, consumir mais", afirma. "E o reajuste do salário mínimo previsto 2012 já é muito alto".

O momento pode ser, no entanto, de compra gradativa na bolsa para o investidor de longo prazo, avalia Sinara Polycarpo, superintendente de investimentos do Banco Santander. "Continuamos otimistas com o mercado doméstico, especialmente com consumo, construção e infraestrutura", diz.

Montar uma carteira de ações com papéis de energia, concessionárias de rodovias e de serviços públicos, em geral, também pode ser uma alternativa. "São empresas que são capazes de se beneficiar com esse cenário de alta de preços, pois conseguem mais facilmente repassar o aumento de custos", diz Sinara.

Para algumas empresas, abril foi um mês especialmente ruim. É o caso da petrolífera OGX, cujas ações ordinárias (ON, com direito a voto) caíam 15,52% até ontem. Os papéis recuaram principalmente após relatório da consultoria da DeGolyer and MacNaughton (D&M) sobre as reservas potenciais frustrar os investidores.

Destaque negativo também para a Petrobras. Apesar da alta do petróleo no mercado internacional, a demora no reajuste no preço da gasolina afetou os papéis. As ONs da estatal perdiam 11,86% em abril até ontem, enquanto as preferenciais (PN, sem voto) caíam 10,73%.

No câmbio, as medidas adotadas pelo governo para tentar conter a queda do dólar mostravam pouco efeito. Até ontem, a moeda americana registrava queda de 2,94% no mês e, no ano, acumulava recuo de 4,98%.

O dólar vive um momento de depreciação ante outras moedas, ressalta Adriano Fontes, gestor da Oren Investimentos. Esse movimento se deve, entre outros fatores, à agência de classificação Standard & Poor"s, que confirmou a nota soberana dos Estados Unidos em abril, mas a colocou em perspectiva negativa diante do grande déficit orçamentário do país.

Além disso, Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), deixou claro que não haverá um novo programa de estímulo. O atual "Quantitative Easing 2" será encerrado em junho, cumprindo com seu objetivo de comprar US$ 600 bilhões em títulos do Tesouro. O BC americano revisou ainda para baixo a previsão de crescimento e aumentou a de inflação. O PIB para 2011 deve crescer entre 3,1% e 3,3% - a previsão anterior era de 3,4% a 3,9%. Já a inflação ao consumidor deve oscilar entre 2,1% e 2,8%, ate uma estimativa de 1,3% a 1,7%.

A queda do dólar ante o real faz com que o ouro - que vem se valorizando fortemente no mercado internacional - registre ganho de apenas 0,77% por aqui em abril. Como o metal é cotado em dólar, a desvalorização da moeda americana amortece a alta do ouro. No ano, até ontem, o metal caía 3,66%. O euro, por sua vez, apresentava alta de 1,57% em abril, até ontem, em relação ao real. No acumulado do ano, a moeda comum europeia subia 5,44%.

Com a taxa de juros em alta, a renda fixa fica mais apetitosa para o investidor, diz Sinara, do Santander. Por isso, a recomendação tem sido a aplicação no bom e velho fundo DI, que acompanham o juro. "É melhor ficar com o bom e velho feijão com arroz, que está oferecendo uma rentabilidade excelente ao investidor", afirma.