Título: Preços vão cair em maio, diz Holland
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 06/05/2011, Brasil, p. A3

De Brasília A inflação de abril, cujo IPCA será divulgado hoje, é uma imagem vista do retrovisor. "A partir de maio, a variação mensal da inflação cairá e os agentes econômicos começarão a alterar as previsões" prevê o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland. Segundo ele, os preços do etanol começarão a ceder e haverá menor pressão dos alimentos. Combinados, esses movimentos vão fazer a inflação iniciar uma trajetória cadente.

O aumento do IPCA nos primeiros meses de 2011, disse, representou uma fuga momentânea da inflação do centro da meta. Essa fuga é explicada pelo choque de preços das commodities, pelo grande fluxo de capitais estrangeiros no país e pela maior variação de preços no setor serviços.

A virada nesse cenário, segundo Holland disse ao Valor, ocorrerá a partir deste mês, com a retração dos preços dos combustíveis. Outros fatores entrarão em cena, como a acomodação do nível de atividade. No segundo semestre, a União Europeia sinalizará a retomada da alta dos juros para controle da inflação, e será seguida, em 2012, pelos EUA, espera o secretário.

A decisão dos bancos centrais das grandes economias deverá reduzir a especulação sobre as commodities, aliviando a pressão sobre preços de alimentos. "Isso vai nos ajudar também porque reduzirá os fluxos de capitais para o Brasil, que são fortemente inflacionários. Há uma enxurrada de dinheiro na economia e o governo tem feito todo o esforço para minimizar essa entrada", pondera. De acordo com o Banco Central, US$ 170 bilhões ingressaram no país nos últimos 12 meses.

Na esfera interna, o governo monitora a inflação de serviços e investiga eventuais mudanças de hábitos de consumo, alterações nos preços relativos e efeitos nos preços dos contratos indexados aos IGPs. "A inflação de serviços roda acima do IPCA e temos que entender os motivos. Essa é uma boa pergunta, uma boa discussão. Todos nós estamos pesquisando o setor serviços, que cresceu, aumentou a produtividade e ainda continua utilizando o IGP. Por quê? Não precisa. A rentabilidade pode ser melhor em vários segmentos com índices de preços como o IPCA", disse. "Há contratos, acordos e investimentos que têm que ser observados com calma e atenção, sem que haja rupturas contratuais. Há mudanças microeconômicas, demográficas, sociais, de característica do consumidor que nós, economistas, temos dificuldades em incorporar nos nossos modelos macroeconômicos", acrescentou.

Ao analisar a inflação de serviços, Holland aponta a expansão da formação bruta de capital fixo como um elemento relevante. Ele classifica como surpreendente a previsão de que o investimento atingirá 24% do PIB até 2014. E recorre às previsões do mercado para lembrar que a estimativa para 2011 é de ampliação entre 10% e 12% frente a 2010. "A capacidade de expansão da oferta está dada, não é um problema. A economia está se acomodando em 4,5%, dentro do produto potencial, e os investimentos estão vindo. E o que se espera é que a inflação convirja para a meta".

Essa conjunção de fatores é que o leva a crer que o fim da deterioração das expectativas no Boletim Focus é uma questão de tempo. "Essas expectativas são importantes e os governos devem estar atentos a isso. Só que em algum momento, perdem confiabilidade empírica. O grau de confiança econométrica é reduzido especialmente porque está-se fazendo previsão usando a inflação acumulada nos últimos meses, que tem sido muito alta. A partir de junho, as expectativas vão convergir rapidamente para a meta e é isso que interessa. Esse é o ponto central: fazer as expectativas convergirem para a meta e isso toma meses e não, dias ou horas", concluiu.

Para Holland, ficou mais difícil analisar a conjuntura com modelos econômicos vigentes até a eclosão da crise financeira. "É preciso repensar os modelos econômicos atuais. Está todo mundo fazendo isso. Não é possível usar os modelos de antes da crise para se ter explicações pós-crise", disse.