Título: Múltis brasileiras ainda veem clima de incerteza para negócios no país
Autor: Bradley, Matt
Fonte: Valor Econômico, 06/05/2011, Internacional, p. A11

De São Paulo Quase três meses depois da queda do governo Hosni Mubarak, o Egito ainda é um lugar incerto para negócios. A economia deve sofrer forte desaceleração este ano, o que deverá forçar muitas companhias a rever suas perspectivas de ganhos.

Duas grandes empresas brasileiras que operam no país, Marcopolo e Randon, trabalham em ritmo mais lento que o esperado.

"Não sabemos se a economia do país volta a se acelerar, se fica parada, se volta no segundo semestre ou depois", disse ontem o diretor excecutivo da Randon, Norberto Fabris. A fábrica da Egypt Power, parceira local da empresa gaúcha, parou com o início dos protestos contra Mubarak, em 25 de janeiro, voltou a funcionar semanas depois, mas, disse Fabris, continua "bastante devagar". A demanda ainda está enfraquecida.

Além disso há outro obstáculo: a burocracia. "O que há agora são problemas com a emissão de licenciamento e isso está emperrando um pouco nossa operação." Fabris diz que a empresa egípcia vinha fazendo tratativas com o pessoal dos órgãos do governo responsáveis pela documentação de veículos e que com a queda do regime muitos funcionários foram substituídos pelo atual governo militar. "As carretas que estão sendo montadas hoje estão indo para o pátio porque não há documentação."

Fabris diz que ainda é cedo para fazer estimativas sobre um possível impacto nos planos de vendas da empresa para este ano.

Antes do início dos protestos, a empresa enviou um primeiro lote de 36 semirreboques para serem montados na planta no Egito. Não está definido quando serão enviadas novas peças. A economia deve fechar o ano com a menor taxa de crescimento desde 1992, 1%, segundo previsão do FMI.

A Marcopolo informou que o nível de produção na fábrica que mantém em sociedade com a egípcia GB Auto no país está muito baixo por causa da desaceleração. Os pedidos que haviam sido feitos antes da crise estão sendo entregues, mas a empresa acrescenta que não recebeu novas encomendas desde a explosão dos protestos que derrubaram o antigo regime.

Muito melhor, no entanto, tem sido o cenário para outra multinacional brasileira presente no Egito. A JBS, que mantém um centro de distribuição na Grande Cairo e outro em Alexandria, diz que durante o pico da crise as vendas de carne caíram por dificuldades de transporte. Mas que o ritmo voltou ao normal cerca de dez dias depois de o governo militar assumir. A carne brasileira enfrenta a concorrência da carne de búfalo vinda da Índia. Mas, segundo Rada Alberto Saleh, do setor de exportações da empresa, os militares passaram a exigir fiscalização sanitária mais rigorosa. Isso, diz, piorou a vida dos indianos e está beneficiando a JBS e outros exportadores brasileiros. A JBS fornece carne para as Forças Armadas por meio de um contrato iniciado ainda na era Mubarak.