Título: Para OCDE, desigualdade maior ameaça países ricos
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Fonte: Valor Econômico, 04/05/2011, Internacional, p. A10
De São Paulo
A distância entre ricos e pobres está se ampliando nos países mais ricos do mundo. Em seminário promovido pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) em Paris, o seu secretário-geral, Angel Gurría, definiu como uma "séria ameaça" o aumento na desigualdade de renda verificado desde meados dos anos 1980. "Se na década da mais forte expansão a desigualdade cresceu, o que acontecerá agora?", perguntou Gurría em seu discurso.
A desigualdade subiu em 17 dos 22 países da OCDE para os quais há dados disponíveis. As exceções foram Turquia, Grécia, França, Hungria e Bélgica, que apresentaram uma modesta redução da desigualdade.
Como um todo, a renda média dos 10% mais ricos da população dos países-membros da OCDE é aproximadamente nove vezes maior que a dos 10% mais pobres. O menor desnível entre os extremos de renda, de 5 para 1, é encontrada em Áustria, Dinamarca, Finlândia, Eslovênia, Eslováquia e República Tcheca. Na ponta oposta encontram-se Chile e México, com 27 para 1.
Segundo a OCDE, as tendências mais recentes mostram uma ampliação do fosso entre pobres e ricos em alguns dos países que já têm alta desigualdade, como Israel e Estados Unidos.
Para agravar a situação, países como Dinamarca, Alemanha e Suécia, que tradicionalmente sempre exibiram uma maior uniformidade, agora também estão convivendo com o problema. "De fato, a desigualdade cresceu mais nesses três países do que em qualquer outro lugar durante a última década", afirma o documento da OCDE.
Entre os motivos apontados como responsáveis pela deterioração do quadro, a OCDE cita a globalização, o progresso tecnológico - que aumentou a demanda por trabalhadores altamente qualificados, às custas daqueles com baixa ou nenhuma especialização - e a desregulamentação das atividades empresariais.
Para a OCDE, a reformulação de políticas tributárias e de benefícios é o instrumento mais poderoso para aumentar os efeitos redistributivos - com as transferências governamentais (tanto em dinheiro como em mercadorias) desempenhando "um importante papel". Destaca ainda investimentos em treinamento e educação para os trabalhadores sem qualificação.
No discurso, Gurría elogiou os resultados apresentados pela América Latina e citou especificamente o Brasil como um caso de sucesso na diminuição da desigualdade.