Título: Impacto da recuperação mundial provoca dúvidas
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Fonte: Valor Econômico, 04/05/2011, Especial, p. A14

De São Paulo

A recuperação econômica nos países desenvolvidos pode desencadear um processo coordenado de elevação nas taxas de juros, diminuindo a atratividade dos títulos públicos brasileiros e, assim, reduzindo a entrada de capital no Brasil. A análise, compartilhada por João Castro Neves, presidente da Ambev, e Bernardo Gradin, sócio da Graal Participações e ex-presidente da petroquímica Braskem, é que a valorização do real não se repetirá na mesma velocidade dos últimos anos.

O carioca Castro Neves acredita que a recuperação global é positiva e tem dois efeitos distintos. "Se por um lado os juros podem subir com as economias desenvolvidas mais aquecidas, o custo de crédito diminui devido à redução do risco para os bancos, balanceando o custo de captação e aumentando a oferta de crédito", diz o executivo.

Para Gradin, o cenário é de competição por capital nos países emergentes com a recuperação das economias dos países desenvolvidos, em especial a americana. "Se isso ocorrer, como dá sinais, o Fed [Banco Central dos EUA] pode fazer uma elevação nos juros, saindo de 0,5% para algo como 2%. Isso provocaria uma realocação imediata do risco, hoje concentrada nos países emergentes", afirma. "Com o juro elevado, as letras do Tesouro americano, que em tese não têm risco, tornam-se de novo opção de investimento atrativa." O Brasil e outros emergentes vão perder boa parte do fluxo de liquidez existente hoje, acrescenta ele.

Para o presidente da Suzano, Antônio Maciel Neto, o ano de 2011 não será marcado por grandes elevações nas taxas de juros internacionais, pois a recuperação econômica atualmente verificada nos países ricos não é a acompanhada pela evolução do emprego. "A captação externa pode até ficar um pouco mais cara, mas nada que atrapalhe os negócios da empresa", explicou o executivo.