Título: Com apoio do setor financeiro, projeto quer levar esporte a escolas
Autor: Villaverde, João
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2011, Brasil, p. A2

De São Paulo Estádios, aeroportos, rede hoteleira e rodovias ficarão como legado dos investimentos da Copa do Mundo de futebol de 2014, e dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, em 2016. Preocupado com a falta de discussão em torno de um "legado social" oriundo dos grandes eventos esportivos, o ex-jogador de futebol Raí lançou mão da associação Atletas pela Cidadania, presidida por ele, para tocar um projeto ousado: levar o esporte educacional a 80% das escolas públicas entre 2014 e 2016, e para todas as escolas do país até 2022. O projeto, que será divulgado hoje no Museu do Futebol, em São Paulo, conta com parceria do Itaú Unibanco, que ficará encarregado da gestão do fundo que será lançado para financiar a empreitada. A ideia da organização é fechar uma parceria com os ministérios da Educação e do Esporte, em nível federal, e a partir daí visitar cada uma das 12 cidades que receberão jogos da Copa do Mundo para reuniões com integrantes dos governos regionais e dos municípios. A iniciativa conta com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e deve contar com aportes financeiros do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que complementará o fundo administrado pelo Itaú Unibanco - os recursos foram captados com os atletas filiados à entidade presidida por Raí, mas a partir da aprovação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que deve ocorrer em 20 dias a partir de hoje, serão aceitas doações de empresas e pessoas físicas.

Mais que o convencimento das autoridades públicas, o maior entrave da iniciativa será a falta de infraestrutura escolar - de espaços físicos aptos a receber aulas de esporte até professores habilitados. Segundo o Censo Escolar, levantado pelo Ministério da Educação em 2009, apenas 18% das escolas municipais do ensino fundamental têm quadras esportivas, e 31% delas não contam com professores de educação física.

"Precisamos amarrar o setor público, de forma a tornar compulsório o investimento em aulas de esporte nas escolas públicas", diz Raí. Segundo Daniela Castro, coordenadora-executiva da Atletas pela Cidadania e organizadora do projeto, a ideia é aproveitar os holofotes nos grandes eventos esportivos para "mostrar aos secretários, prefeitos, governadores e ministros que a implementação do projeto terá forte retorno social".

A entidade já conseguiu dos ministros Fernando Haddad, da Educação, e Orlando Silva, do Esporte, o comprometimento com a criação de um comitê interministerial para acompanhamento do projeto. O comitê deve ser formado no segundo semestre, quando as expedições da associação dos atletas às 12 cidades-sedes começarão.

"Trata-se de uma iniciativa inovadora", diz Denise Hills, superintendente de Sustentabilidade do Itaú Unibanco, "porque a ONU mesmo destacou que não há registro de uma associação de atletas entrar com dinheiro próprio para tentar implementar, junto ao setor público, aulas de esportes para todas as escolas".

Na apresentação do projeto, hoje, além de divulgar o apoio da Procter & Gamble, a Atletas pela Cidadania contará com a presença de alguns integrantes, como as ex-jogadoras de basquete Hortência e Paula, Clodoaldo Silva, da natação paraolímpica, e Ana Moser, do vôlei. Ao todo, são 120 convidados.