Título: Ameaça à prosperidade do Peru
Autor: O'Grady, Mary Anastasia
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2011, Opinião, p. A11

Se o nacional-socialista Ollanta Humala derrotar a populista de centro-direita Keijo Fujimori no segundo turno da eleição presidencial do Peru em 5 de junho, grande parte do crédito caberá ao brasileiro Partido dos Trabalhadores. As implicações para a região são alarmantes.

Uma vitória de Humala de forma alguma é algo garantido. Nos dias seguintes à sua vitória no primeiro turno, com 30% dos vo tos, seus números aumentaram. Na semana passada, no entanto, pesquisa da Ipsos-Apoyos mostrou que seu apoio caiu de 42% para 39%. O apoio a Fujimori aumentou de 36% para 38%. Com 10% de indecisos, a disputa agora está em empate estatístico.

Ainda assim, a forte projeção de Humala no Peru, cujo perfil econômico vem melhorando, requer uma explicação. Ela pode ser encontrada no Brasil.

O PT - como o Partido dos Trabalhadores é conhecido no Brasil por suas iniciais em português - passou mais de 20 anos cultivando, organizando e orquestrando diversos setores da extrema esquerda da América Latina. É fundador do Foro de São Paulo, um conglomerado de nacionalistas, socialistas e comunistas de toda a região que, tendo visto o Muro de Berlim cair, agruparam-se para trabalhar pelo renascimento de seus ideais totalitários.

Ao logo dos anos os "companheiros de viagem" incluíram Cuba, o grupo terrorista colombiano Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e Hugo Chávez, da Venezuela. Agora membros-chave do partido trabalham nos bastidores no Peru para tornar Humala o próximo presidente do país.

O Peru é assunto premente no radar revolucionário porque as circunstâncias dos pobres vêm melhorando drasticamente. Começando com a presidência do pai de Keiko, Alberto Fujimori (1990-2000), sucessivos governos apoiaram uma economia mais aberta e uma moeda estável. Todos os setores da sociedade se beneficiaram. Jaime de Althaus, jornalista peruano e autor de "La revolución capitalista en el Peru" (a revolução capitalista no Peru, de 2008, disponível apenas em espanhol), destacou em coluna em 15 de abril no jornal peruano "El Comercio" que a pobreza caiu pela metade nos últimos 20 anos. Também observou que nos últimos dez anos a renda dos peruanos mais pobres cresceu quase o dobro que a dos mais ricos.

A corrupção é uma das explicações para o descontentamento com o status quo. Humala, contudo, dificilmente parece ser o antídoto. Em 2000, como ex-oficial das Forças Armadas, liderou levante militar contra Fujimori e justificou a ação porque o presidente era ditatorial e corrupto. Outros que estiveram próximos do incidente, no entanto, duvidam dos motivos sublimes. Um dos céticos é Marco Miyashiro, que era policial de alta hierarquia na ocasião. Em abril, ele chamou a tentativa de golpe em 2000 de nada além de um "show", elaborado para criar uma distração e permitir que o chefe da agência de espionagem, Vladimiro Montesinos, pudesse fugir do país e evitar julgamento por seus feitos.

Em 2005, Humala era adido militar peruano na Coreia do Sul, quando seu irmão Antauro tentou outro golpe, desta vez contra o presidente Alejando Toledo. Em Seul, Ollanta ligou para uma emissora de rádio em Lima para dizer que apoiava as ações do irmão. Quatro policiais foram mortos.

Esse passado violento e errático não é o único problema. O plano de governo nacionalista de seu partido, de 198 páginas (datado de dezembro de 2010), chama o liberalismo econômico de "predatório" e propõe nacionalizar "atividades" estratégicas. Diz que "a exploração (dos recursos naturais), aproveitada geralmente por uma minoria econômica estrangeira, não pode continuar". Também promete "revisar" acordos de livre comércio que "se opõem ao exercício de nossa vontade soberana". Em resumo, Humala não gosta das políticas que serviram bem ao Peru nos últimos anos.

Essas visões, juntamente com os laços de Humala com Hugo Chávez, significavam que o candidato precisava de uma mudança de imagem, se quisesse ter esperança de ser eleito. Entra o PT. Agindo sob seus conselhos, ele agora diz que o ex-presidente Lula da Silva, do PT brasileiro, é seu modelo.

O problema é, como escreveu o jornalista peruano Enrique Chávez, na edição de 7 de abril do semanário "Caretas", que Lula não foi a pessoa "designada" pelo PT para assessorar Humala. A tarefa, explicou Chávez, coube a Valter Pomar, diretor do Foro São Paulo e conhecido por ser da "esquerda dura" dentro do PT.

O jornalista também destacou que foi Pomar quem apareceu ao lado de Humala neste ano para pronunciar o apoio do PT à sua candidatura. Mais do que isso, "ele foi chave para instalar o "comando brasileiro" na campanha e oferecer recomendações importantes para purificar a imagem do comandante". Humala agora usa gravata, fala do "amor" pelo Peru e é fotografado segurando rosários.

Então, o que Pomar tem em mente para o Peru? Chávez cita entrevista de março de 2010 para o "site esquerdista "Alerta Peru"", na qual o brasileiro lamenta que a Venezuela não tenha tido uma revolução verdadeira. "Nossos países continuam sofrendo interferência externa e a resistência das elites locais, que são muito poderosas." Ele acrescentou: "Em muitos países ainda não atingimos a vitória: esse é ocaso na Colômbia, México e, é claro, Peru. Se nesses três países, que são tão importantes, não houver governos esquerdistas, progressistas ou nacionalistas, não haverá uma mudança completa."

Os peruanos estão alertados de antemão.

Mary Anastasia O"Grady é colunista do The Wall Street Journal.