Título: Endesa volta a investir no Brasil
Autor: Prieto, Carlos
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2011, Empresas, p. B1

De Madri Depois de um movimento que aparentava uma saída dos espanhóis do país, com a venda de uma série de transmissoras espanholas para a China, as empresas espanholas começam a mostrar que não só querem ficar no país como ampliar sua participação. Ontem, a Endesa anunciou que deve participar do próximo leilão de energia eólica no país, a exemplo de sua conterrânea Iberdrola. Será a primeira experiência da companhia no Brasil nesse tipo de geração. No Brasil, a Endesa é dona de duas distribuidoras e de um parque gerador de cerca de 900 MW. Seus investimentos estavam estagnados nos últimos anos, o que levou a se cogitar a saída da empresa com a venda de seus ativos de distribuição para a Cemig.

Borja Prado, presidente do conselho de administração da companhia espanhola, afirmou que o Brasil apresenta uma segurança politica e regulatória que incentiva os investimentos. Portanto, não haveria, na sua opinião, motivos para reduzir ou evitar novos projeto no país.

Em entrevista à imprensa após reunião do conselho de acionistas que ratificou os resultados de 2010, o executivo foi além e disse que está disposto a crescer tanto de forma orgânica quanto com aquisições. "Estamos sempre buscando novos negócios. Tanto em distribuição, como em geração. Por isso, planejamos participar do proximo leilão de energia (marcado para julho) com projetos no segmento de geração eólica. Estamos abertos a todas as possibilidades", afirmou Prado.

O grupo pretende participar com projetos que somam 400 MW no leilão, o que poderia gerar investimentos de R$ 1,4 bilhão, sendo metade no Estado do Ceará, onde já opera a Coelce. A Endesa mapeou os ventos em várias partes do território brasileiro antes de decidir se ia ao leilão. A região Nordeste deverá concentrar os investimentos nesse segmento caso saia vencedora.

Atualmente, o grupo espanhol controla a Usina Hidrelétrica de Cachoeira Dourada, no Estado de Goiás, e a Termoelétrica de Fortaleza, no Ceará. Os dois empreendimentos somam potência instalada de geração de cerca de 900 MW.

Além dos novos planos para geração, Prado descartou a venda da Coelce, distribuidora cearense. Classificando de rumores, disse que nunca negociaram a companhia e, ao contrário, tem interesse em ampliar a sua presença na distribuição. A Endesa controla também no Brasil a distribuidora Ampla, no Estado do Rio de Janeiro, e a Cien, companhia que faz a interligação elétrica entre o Brasil e Argentina.

Logo após sua apresentação, um representante dos acionistas perguntou se a Endesa poderia buscar novos mercados para investir. O executivo respondeu que a presença de seu controlador na Europa - o grupo italiano Enel tem 92% das ações da Endesa - limitava seu crescimento no continente. Na América Latina, o potencial de expansão é muito maior e "não faz sentido ir para outros mercados e perder o foco" na região. A América Latina recebeu ¿ 1,2 bilhão de investimentos do total de ¿ 3,4 bilhões aplicados no ano passado pelo grupo.

O grupo planeja investir ¿ 10,3 bilhões nos próximos cinco anos na Espanha e na América Latina.

Quanto aos demais países da região, a direção mundial da Endesa evitou fazer, principalmente, análises políticas. Questionados sobre a sucessão presidencial no Peru, Andrea Brentan, principal executivo da companhia espanhola, disse acreditar que independentemente do vencedor - a eleição, em segundo turno, está marcada para o dia 5 de junho -, não haverá mudanças imediatas e a política energética será mantida.

A Endesa tem negócios no Brasil, Chile, Argentina, Colômbia e Peru. Dos seus 25 mil funcionários, 12 mil estão na América Latina, sendo 5,3 mil no Brasil. Prado destacou, em seu discurso aos acionistas, o papel que os cinco países da América Latina representam na expansão do grupo.

O jornalista viajou a convite da Endesa