Título: Semana começa morna no câmbio e nos juros
Autor: Campos, Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2011, Finanças, p. C2

A semana começou com firme recuperação no preço das matérias-primas. Mas tal movimentação não foi acompanhada de perto pelas bolsas de valores ou pelo mercado de câmbio, que ficaram presos às renovadas preocupações com o endividamento soberano de países europeus, notadamente a Grécia, que amargou novo rebaixamento de nota pela Standard & Poor"s.

Depois de perder 8,9% na semana passada, o índice CRB subiu 2%, para 344 pontos. Repique mais acentuado no preço do petróleo. O barril do tipo WTI ganhou 5,5%, para US$ 102,55, e o Brent se valorizou 6,20%, para US$ 115,90.

Tal comportamento das commodities deu algum impulso de alta às bolsas de valores por aqui e no mercado externo, mas os ganhos não chegaram a meio ponto percentual.

Esse "descolamento" denota a incerteza sobre o rumo do preço das matérias-primas e o impacto disso no crescimento mundial. O preço das commodities também foi abordado pelos banqueiros centrais que estão reunidos em Basileia, na Suíça.

No câmbio externo, o euro chegou a fazer mínima a US$ 1,425, menor preço em duas semanas, após a ação de rating da S&P, que dá nota soberana "B" para a Grécia e não mais "BB-". Também ontem, a Moody"s alertou que pode fazer novas revisões para baixo na nota de crédito do país.

Após tombo, matérias-primas têm repique de alta

Sempre que a liquidez se retrai um pouco, algo sinalizado pelo aumento na demanda por dólares, os países europeus que compõem o Piigs (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) veem um aumento nas suas taxas de financiamento e seguro de dívida.

Dentro desse ambiente, o Dollar Index, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas, operou em alta durante boa parte do pregão, chegando a fazer máxima intradia a 75,16 pontos. Mas o mercado mudou de lado e o índice fechou com baixa de 0,28%, a 74,63.

Dentro desse contexto, o euro reduziu as perdas do dia retomando a linha de US$ 1,43.

No câmbio local, o dia foi bastante instável, mas de volume pouco expressivo no mercado à vista. O dólar comercial fez máxima a R$ 1,631, ou alta de 0,86%, e mínima a R$ 1,610, queda de 0,43%, até encerrar o dia no meio do caminho, valendo R$ 1,620, ainda assim, leve valorização de 0,18%. O giro estimado para o interbancário ficou em apenas US$ 1,1 bilhão.

Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o dólar para junho apontava leve baixa de 0,09%, a R$ 1,6215, antes do ajuste final. O contrato chegou a cair a R$ 1,6155 e subir a R$ 1,637.

No mercado de juros futuros, o viés de baixa para os contratos longos permanece, mas o volume foi tímido, pouco mais de 600 mil contratos.

Contribuindo para a retração nos prêmios de risco o boletim Focus mostrou queda na projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2011 pela primeira vez após oito altas consecutivas. A mediana recuou de 6,37% para 6,33%.

Tal sinal dado pela pesquisa do Banco Central (BC) reforça a percepção de maior tranquilidade do mercado com relação à estratégia da autoridade monetária no combate à inflação.

Segundo o vice-presidente de tesouraria do Banco WestLB, Ures Folchini, tanto a cena interna quanto externa estão mais favoráveis à redução da inflação.

Por aqui, depois do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril, apresentado na sexta-feira, cresceu a percepção de que a inflação já atingiu seu pico e que de agora em diante as leituras mensais serão menores.

Pelo quadro externo, aponta o tesoureiro, a percepção é de menor crescimento e menor pressão inflacionária pelo lado das commodities. Parece existir a percepção de que o preço das matérias-primas estava em patamares insustentáveis.

Pelo lado da atividade, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontou que as vendas reais da indústria caíram 5,2% em março, em relação ao mês anterior, pelo critério dessazonalizado.

Já o nível de utilização da capacidade (NUCI) da indústria ficou em 82,4% em março, em termos dessazonalizados, após marcar 83,4% em fevereiro. Em março de 2010, o indicador se encontrava em 82,3%.

A agenda da semana pode dar mais emoção a esses mercados. Hoje à noite, a China divulga sua bateria mensal de indicadores, com vendas no varejo, produção industrial e preços no atacado e no varejo.

Segundo analistas, o comportamento dos dados será determinante na formação das expectativas sobre novas ações restritivas de política monetária pelo BC chinês, que sobe juros e alíquotas de compulsório para conter a inflação.

Por aqui, atenção às vendas no varejo em março, dado que sai na quinta-feira.

Eduardo Campos é repórter

E-mail eduardo.campos@valor.com.br