Título: No Sul, tucano diz que Lula deixou herança maldita para Dilma
Autor: Uchôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2011, Política, p. A12

De Porto Alegre O ex-governador de São Paulo e candidato derrotado à Presidência da República em 2010, José Serra (PSDB), disse ontem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou uma "verdadeira herança maldita" para a sucessora, a também petista Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo, classificou de "hesitante" o atual governo, que na opinião dele "não sabe bem que rumo tomar" para enfrentar os problemas herdados da gestão anterior.

Segundo Serra, Lula deixou como legado a "desindustrialização, inflação e um atraso monumental nas obras de infraestrutura". Agora, afirmou, o governo não tem uma política anti-inflacionária clara e resume a ação contra a alta dos preços à "âncora cambial" que afeta os exportadores de Estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Além disso, restam "questões pendentes", como a saúde pública e o contrabando de drogas e armas para o país, disse.

As declarações foram feitas antes de uma palestra do ex-governador sobre reforma política na Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Sul (Federasul), acompanhada por deputados do PSDB, empresários, políticos.

Depois da palestra, Serra foi ao Palácio Piratini para uma conversa com o governador Tarso Genro (PT), intermediada pelo presidente da Federasul, José Paulo Dornelles Cairoli, e pelo presidente da Assembleia Legislativa gaúcha, Adão Villaverde (PT). Segundo ele, o tema do encontro também foi a reforma política. O suposto legado de Lula não foi tratado. "[Serra] não falou em herança maldita até porque nós temos muito respeito um pelo outro. Senão nós iríamos falar de heranças recíprocas", disse Genro.

Ainda na entrevista concedida na Federasul, quando questionado sobre a desarticulação dos partidos oposicionistas no Brasil o tucano admitiu que a oposição está "engatinhando" no papel de criticar, fiscalizar, cobrar e fazer sugestões ao governo. Perguntado se concorda com o ex-presidente do DEM Jorge Bornhausen que, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", disse existir um "vácuo de liderança" na oposição, ele desconversou. "Você não decide: vamos ter um líder e elege um; isso acontece na prática".

Segundo ele, a atual crise na oposição tem impedido um posicionamento crítico e fiscalizador em relação ao governo federal. "Mesmo os eleitores do PT esperam que a oposição atue assim", afirmou.

O ex-governador voltou a negar que cogite migrar para o PSD, partido que está sendo criado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Segundo Serra, qualquer especulação sobre esse assunto não passa de "fofoca". (Com agências noticiosas)