Título: EUA querem cortar isenções tributárias de petroleiras
Autor: Power, Stephen ; Chazan, Guy
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2011, Internacional, p. A13

The Wall Street Journal

Com os preços da gasolina em boa parte dos EUA acima da psicologicamente importante barreira de US$ 4 por galão, ou US$ 1,06 por litro, parlamentares democratas e republicanos estão em disputa em torno de créditos tributários para as petrolíferas, que desfrutam de um ano de grandes lucros.

Senadores democratas querem questionar os diretores-presidentes da Exxon Mobil, da Chevron, da ConocoPhillips e das subsidiárias americanas da BP e da Royal Dutch Shell sobre os impostos que pagam numa audiência da Comissão de Finanças do Senado hoje.

Os republicanos, que criticaram o governo Barack Obama por não demorar muito para aprovar novas explorações marítimas, conseguiram aprovação de um projeto de lei da Câmara ontem que exigirá que as decisões sobre permissões de perfuração offshore sejam tomadas dentro de 60 dias.

A votação ocorreu horas depois de o governo aprovar um pedido da Shell para perfurar cinco novos poços de águas profundas no Golfo do México, a segunda sequência de licenças de exploração aprovadas desde o vazamento de petróleo no golfo no ano passado.

O futuro da gasolina caiu ontem diante das preocupações de que os motoristas americanos estão diminuindo o uso de carros. O preço da gasolina havia subido bastante nos últimos meses por causa de preocupações com o suprimento do Oriente Médio e com o aumento do consumo na China e em outros países de rápido crescimento.

Mas a queda de um dia não deve aliviar a pressão sobre os políticos e o governo Obama para tomar alguma atitude em relação à alta do petróleo. Senadores democratas veem a insatisfação da população com o preço da gasolina e as preocupações com o déficit do governo federal como uma oportunidade para que ponham em questão uma série de benefícios tributários, como os oferecidos a produtores de petróleo e de etanol.

O presidente da Comissão de Finanças, o senador democrata Max Baucus, divulgou recentemente um plano para eliminar os benefícios fiscais das cinco maiores petrolíferas do país e impor novos impostos para as operações no Golfo do México, sem tocar nos incentivos às petrolíferas menores.

O plano eliminaria menos que os US$ 4 bilhões em benefícios fiscais da indústria petrolífera que Obama prometeu cortar do orçamento federal de 2012. Baucus já tinha dito que, diante da alta do petróleo e do fato de as grandes petrolíferas e de energia estarem anunciando lucros bilionários no primeiro trimestre, o governo deveria acabar com os benefícios fiscais desfrutados pelas petrolíferas.

As empresas, por sua vez, tentaram reagir aos ataques contra seu tratamento tributário preferencial criticando certos créditos fiscais que beneficiam outros setores, ao mesmo tempo em que indicavam a possibilidade de aceitar limites para seus benefícios. "Precisamos ser consistentes; há subsídios enormes para certas formas de combustíveis e não para outras", disse o diretor-presidente da Chevron, John Watson, numa entrevista ontem ao "Wall Street Journal".

Pelo menos um executivo da indústria petrolífera já indicou que está aberto a um acordo sobre os impostos. Numa entrevista à revista "National Journal" publicada na segunda, o presidente da divisão americana da Shell, Marvin Odum, indicou que estaria aberto a coordenar certos benefícios fiscais à cotação do petróleo e do gás natural.

"Quando se pensa em quaisquer tipos de novos impostos, acho que indexá-los à cotação é algo a se estudar", disse Odum ao "National Journal". Um porta-voz da Shell não quis comentar. O Instituto Americano do Petróleo não quis comentar a declaração atribuída a Odum. A indústria petrolífera aparenta desfrutar no momento de sólido apoio de republicanos e democratas de Estados que são grandes produtores de petróleo, o que reduz as chances de os incentivos ao setor serem cortados. Para o presidente da Câmara, o republicano John Boehner, as propostas de Baucus e outros democratas nada mais são que "impostos maiores que vão elevar o preço da gasolina, eliminar empregos no país e aumentar nossa dependência do petróleo importado".

Em separado, a principal associação da indústria do etanol e seu defensor mais confiável no Senado estão apoiando a criação de leis que reduzam os benefícios tributários para refinarias que misturam etanol à gasolina.

Os usineiros americanos dizem que o produto deles economiza dinheiro para os motoristas quando é misturado à gasolina. Mas a principal associação do setor apoiou uma lei proposta pelo senador republicano Charles Grassley e políticos de Estados com grandes plantações de milho para reduzir fortemente nos próximos dois anos o crédito de US$ 0,45 por galão concedido para refinarias que adicionam álcool à gasolina. Com o apoio dos criadores de animais, dos fabricantes de alimentos e de ambientalistas, há outro grupo de senadores propondo uma lei que elimina totalmente o crédito.