Título: Bomba em Bogotá
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 13/08/2010, Mudo, p. 19

Explosão no centro financeiro da capital colombiana deixa 18 feridos e provoca medo.

Cinco dias depois da posse do novo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, um atentado abalou o centro financeiro de Bogotá. A explosão de um carro-bomba na madrugada de ontem em frente ao prédio da Rádio Caracol e da agência de notícias Efe causou ferimentos em 18 pessoas e danificou dezenas de edifícios no nordeste da capital colombiana. ¿Como todo ato terrorista, o que (o atentado) quer é perturbar, criar medo entre a população. (...) Eles não conseguirão¿, declarou Santos à Rádio Caracol, na chegada ao local da explosão.

Até o fechamento desta edição, policiais ainda investigavam quem seria o responsável pela bomba. Para o professor de ciências políticas da Universidade dos Andes Luis Javier Orjuela, a autoria do atentado poderia ser tanto da extrema direita quanto da extrema esquerda do país. ¿Para a esquerda armada, entre eles as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), poderia ser uma reação à resposta dada pelo governo Santos de aceitar o diálogo, mas impor certas condições¿, disse Orjuela ao Correio. ¿Para o outro lado, alguns setores da extrema direita estão incomodados com o estilo diplomático e conciliador do novo governo, que rompe com o estilo conflituoso do de Álvaro Uribe¿, completa o analista colombiano.

Orjuela também ressalta que o governo de Uribe enfatizava a questão da segurança e adotava um estilo ¿linha dura¿ em relação a vizinhos como a Venezuela. ¿Pode haver setores da extrema direita que consideram que o governo de Hugo Chávez está apoiando as Farc e (o atentado) seria uma forma de gerar uma situação de insegurança para obrigar o governo (Santos) a assumir também uma política linha dura¿, analisa o acadêmico.

Ao avaliar o local escolhido para a explosão, Orjuela cogita que poderia se tratar de uma ameaça ao diretor da Caracol ou uma forma estratégica de acertar o centro financeiro da cidade. O promotor público colombiano Guillermo Mendoza Diago se mostrou ontem convencido da tese de um golpe contra a rádio. ¿O atentado está dirigido contra a Rádio Caracol, porque é um ato de intimidação contra os meios de comunicação¿, disse o jurista.

¿O que se pode afirmar com certeza é que quem praticou o atentado está alcançando seu objetivo de produzir desinformação, desestabilização e incerteza ¿ condições necessárias para fazer o novo governo endurecer sua política de ordem pública¿, conclui Orjuela. No meio da tarde de ontem, as autoridades anunciaram um ¿plano cadeado¿ para a capital, com a instalação de postos de controle policial nas entradas e saídas de Bogotá.

Diversos governos da região lamentaram o incidente em Bogotá. ¿O povo e o governo venezuelanos repudiam de maneira enérgica o ato terrorista dirigido contra o povo irmão da Colômbia e seu desejo de viver em paz¿, disse Chávez, em comunicado à imprensa. O governo brasileiro, por meio de nota do Itamaraty, condenou ¿veementemente¿ o ataque e disse repudiar ¿todas as formas de terrorismo e à prática de violência contra populações civis¿.

Vice tem alta O vice-presidente da Colômbia, Angelino Garzón, foi transferido ontem da unidade de terapia intensiva para um quarto e ¿se recupera satisfatoriamente¿, anunciaram os médicos da Clínica Shaio. Garzón sofreu um infarto de miocárdio na segunda-feira, dois dias depois que assumiu a Vice-Presidência do governo de Juan Manuel Santos, o que o obrigou a fazer uma operação de emergência. Garzón, 64 anos, ganhou destaque no cenário político primeiro como como dirigente sindical, e depois se tornou ministro do Trabalho, governador do departamento de Valle e embaixador para as Nações Unidas.

Os 84 anos de Fidel

Recuperado de uma grave doença que o afastou do poder em 2006, o ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, completa hoje 84 anos, envolvido em uma intensa agenda de atividades públicas, centradas na política internacional. Depois de quatro anos de recolhimento, Fidel voltou a ficar em evidência constante há um mês, exibindo uma energia surpreendente. Depois de ter governado o país por 48 anos, ele agora se mantém afastado das questões internas, administradas pelo irmão Raúl. ¿A mim, cabe dizer as coisas e alertar para os acontecimentos para que cada um decida (...)¿, disse esta semana, durante entrevista a jornalistas venezuelanos.

A série de compromissos públicos teve seu ápice no último sábado, quando Fidel discursou no Parlamento. Mas o retorno à vida pública começou semanas antes, em 7 de julho, em pleno anúncio de libertação de 52 presos políticos. ¿É para desviar a atenção¿, dizem o opositor Manuel Cuesta e a blogueira Yoani Sánchez.

Durante a convalescença, Fidel Castro abriu um pouco sua intimidade ao mostrar-se em casa e com a família. Foi fotografado de pijama, de roupa esportiva, de camisa quadriculada, até voltar, novamente, ao simbólico uniforme verde-oliva, embora sem as insígnias militares. Nos quatro anos de ¿reclusão¿, escreveu 290 artigos publicados na imprensa local, a maioria sobre temas internacionais e contra os Estados Unidos. Nos últimos, externou preocupação sobre um iminente ataque americano ao Irã.

Terceiro de sete filhos de um imigrante espanhol e de uma camponesa cubana, Fidel Castro chegou ao poder ao derrotar o ditador Fulgencio Batista em 1º de janeiro de 1959. Protagonizou episódios como a crise dos mísseis em 1962, a expansão da guerrilha na América Latina e sobreviveu à invasão americana da Baía dos Porcos, à queda do bloco soviético e a 11 presidentes dos Estados Unidos. É visto pela esquerda mundial como paradigma de solidaridade e justiça, enquanto seus adversários o qualificam como um ¿ditador¿ que restringiu liberdades e submeteu os cubanos à penúria.