Título: Guerrilha colombiana teve ajuda de Chávez, diz estudo
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Fonte: Valor Econômico, 11/05/2011, Internacional, p. A13
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ofereceu ajuda financeira à maior guerrilha da Colômbia e autoridades de seu governo pediram ao grupo que assassinasse inimigos políticos. Os guerrilheiros, por outro lado, ajudaram a financiar a campanha do atual presidente do Equador, Rafael Correa.
São essas algumas das afirmações mais explosivas feitas ontem por um respeitado centro de pesquisas do Reino Unido, o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, em inglês), com base na análise, que durou dois anos, do conteúdo de três computadores apreendidos com um dos líderes das Forças Armadas Revolucionários da Colômbia (Farc).
Intitulado "The Farc Files: Venezuela, Ecuador and the Secret Archive of Raúl Reyes," (Os dados das Farc: Venezuela, Equador e o arquivo secreto de Raúl Reyes), o relatório mostra detalhes de uma relação aparentemente bastante fluida dos guerrilheiros com o governo da Venezuela e uma aproximação com o caixa da campanha do atual presidente do Equador, supostamente com o seu aval.
Em um dos trechos, o livro diz que, em setembro de 2000, um ano e meio depois de sua posse, Chávez recebeu Raúl Reyes e prometeu a ele um empréstimo para que a guerrilha comprasse armas. Em 2 novembro, Reyes escreveu ao então líder máximo das Farc, Manuel Marulanda, contando sobre não um mas dois encontros (até agora desconhecidos) que disse ter tido com Chávez.
"Ao expor-lhe o tipo de armas que precisamos e os dólares para comprá-las, [Chávez] expressa que se coloca à frente do projeto e que não falemos de cinco anos para sua devolução, que o importante é consegui-las e tomar o poder, uma vez que estejamos no governo, falemos do pagamento." Reyes continua e afirma que o presidente venezuelano "tem boas relações com Putin, o [então] presidente russo, [e que ele] disse que por essa via buscamos uma opção".
Ao jornal colombiano, "El Tiempo", James Lockhart, analista do IISS que coordenou o estudo, disse que, embora tenham havido "transferências relativamente modestas de dinheiro e armas para as Farc, não existe evidência de que Chávez tenha cumprido com sua promessa de entregar ao grupo um financiamento em grande escala". A oferta teria chegado a US$ 300 milhões, segundo o IISS. "Chávez forneceu apoio político logístico e territorial às Farc quase desde sua posse como presidente em 1999 e como política de Estado", disse Lockhart.
Caracas sempre descartou a validade dos documentos, dizendo que os textos atribuídos às Farc não passavam de uma peça fabricada pelo governo do ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe - que manteve uma relação turbulenta com Chávez. Ontem tanto a Venezuela como o Equador negaram a veracidade dos documentos e rejeitaram as conclusões do IISS. O instituto, no entanto, diz que autenticidade dos documentos apreendidos não pode ser contestada. "Nenhuma agência do mundo teria sido capaz de falsificá-los", assegura a instituição.
O relatório diz que as Farc treinaram forças de segurança da Venezuela após o breve golpe de Estado de 2002 que tirou Chávez do poder 48 horas. Diz também que em 2006, Julio Chirino, chefe de segurança do então ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Alí Rodríguez Araque, foi enviado a falar com Reyes e pedir que as Farc assassinassem dois desafetos do governo. Rodríguez é o atual ministro da Energia Elétrica. Não há nenhuma evidência, diz o livro, de que a operação tenha ido adiante.
No ano passado, pouco antes do fim de seu mandato, Uribe apresentou à Organização dos Estados Americanos (OEA) denúncia de que o governo venezuelano estava dando cobertura a mais de mil guerrilheiros das Farc. A denúncia abriu uma crise diplomática e política entre os dois países.
Sobre o presidente do Equador, o socialista Rafael Correa, o relatório traz de volta o tema que foi explorado por seus opositores. As Farc, segundo o IISS, contribuíram com US$ 400 mil para sua campanha eleitoral em 2006. O então candidato sabia da origem do recurso, diz o livro. O presidente negou a acusação. O IISS diz que seu governo nunca manteve relação institucional com a guerrilha.
Na relação com Chávez, as Farc tiveram também reveses. Em um episódio descrito pelo IISS, Caracas teria permitido que um comboio das Farc passasse pelo território venezuelano. Mas no dia marcado, forças venezuelanas atacaram o grupo e entregaram alguns guerrilheiros a Uribe. Mono Jojoy, um importante líder da guerrilha, reagiu classificando Chávez como "um presidente enganador e provocador de discórdias".