Título: Defesa tímida de Palocci expõe insatisfação do PT
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2011, Política, p. A7
A tímida defesa feita por senadores do PT - e as cobranças públicas e reservadas por mais explicações - ao ministro Antonio Palocci, em resposta à notícia de multiplicação do seu patrimônio em 20 vezes nos últimos quatro anos, reflete a insatisfação crescente na bancada com a condução da Casa Civil.
Há queixas de falta de acesso a ele, de não haver contato com a bancada para discussão de projetos e de centralização das demandas, que precisam ser encaminhadas ao ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais) - visto cada vez mais sem função.
Episódio recente, atribuído a Palocci e que causou mal estar na bancada do PT foi a não indicação de um senador do partido a líder do governo no Congresso. Disputaram Walter Pinheiro (BA) e Wellington Dias (PI). Numa estratégia atribuída à Casa Civil, a função foi oferecida a José Pimentel (PT-CE). No fim, nem Pimentel levou. Um deputado do PMDB - Mendes Ribeiro (RS) - é citado como o escolhido, sem aviso à bancada.
Em assuntos importantes, como a tramitação da proposta de emenda constitucional que restringe o uso de medidas provisórias, os senadores ficaram sem orientação para negociar com o PMDB e com a oposição. Petistas dizem que o único interlocutor de Palocci é o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) - o que já causou problemas até com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Foi com Jucá que Palocci conversou sobre o adiamento da votação dos vetos presidenciais, para evitar o risco de derrubada do veto da emenda que trata dos royalties do petróleo no pré-sal.
Com exceção de Marta e Lindbergh Faria (PT-RJ), que foram enfáticos na solidariedade prestada, parlamentares da base mostravam desconforto e diziam esperar mais informações antes de se manifestar. "O terreno é propício a ilações. Como a consultoria ocorreu depois de ele ser ministro da Fazenda, durante o mandato como deputado, dá margem a ilação de que qualquer consultoria parece tráfico de influência", disse Walter Pinheiro. Segundo ele, quanto mais o ministro demorar a esclarecer as consultorias prestadas, mais argumentos terá a oposição.
Wellington Dias prestou solidariedade a Palocci, mas defendeu "transparência". Marta acusou a oposição de "oportunismo" por explorar a informação. Jucá, interlocutor de Palocci, lhe telefonou e considerou satisfatórias as informações. Evitou o assunto no plenário.
Autor de um projeto de lei para regulamentar a atividade do lobby no Legislativo e no Executivo, o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) analisa que o trabalho de Palocci como consultor não se configura, necessariamente, como o de um lobista. "Lobby é a atuação junto ao poder público para conseguir um benefício, favorecer um interesse", comenta. "Não está clara a atuação de Palocci. O que se sabia é que ele fazia palestras e conferências", diz.
O regimento do Congresso não faz restrições à atuação de parlamentares que têm empresas ou que representam o setor privado. "A maioria dos deputados tem empresa. Há parlamentares representando interesses de vários setores", comenta Zarattini. "Por isso é importante garantir a transparência na relações entre os poderes público e o privado", afirma.
O presidente do PT, Rui Falcão, disse que o partido não tem "nenhuma dúvida quanto à honestidade" de Palocci, durante encontro do PT com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e representantes de partidos da base aliada. "Temos total confiança em relação à sua lisura e ao seu comportamento ético", afirmou.