Título: Petrobras adia plano estratégico e agrada mercado
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2011, Investimentos, p. D5
Mais que o lucro recorde de R$ 10,9 bilhões, a expectativa de uma redução do valor previsto para investimentos no Plano Estratégico da Petrobras até 2015, cuja divulgação foi adiada na sexta-feira, parece ter melhorado o humor do mercado com relação à estatal.
Ontem as ações ordinárias subiram 2,34%, para R$ 27,02, na segunda maior alta entre as ações que compõem o Ibovespa. A preferencial subiu 1,78%, para R$ 27,02.
A companhia adiou a divulgação do plano estratégico porque o conselho de administração solicitou "estudos e análises" adicionais. Segundo uma nota publicada no portal "EnergiaHoje", a "ordem" seria para revisão de alguns indicadores do plano, de modo que fique próximo aos US$ 224 bilhões do plano atual, que vai até 2014.
A notícia, não confirmada, veio em um momento em que as estimativas são de elevação para algo entre US$ 260 bilhões e US$ 265 bilhões. Marcus Sequeira, analista do Deutsche Bank, escreveu em seu relatório que mesmo que o investimento não fique inalterado, a notícia de uma redução é "bem-vinda".
A Petrobras planeja investir R$ 94 bilhões em 2011 e recentemente divulgou seu plano para desenvolvimento do pré-sal da bacia de Santos (Plansal), que prevê investimentos de US$ 54 bilhões no período 2011-2015.
Quando anualizado, o atual plano estratégico prevê investimentos anuais de US$ 45 bilhões, o que já é muito mais que a geração de caixa operacional em 2010, que foi de US$ 25 bilhões, já descontados os dividendos.
Mesmo sendo impossível manter o valor igual, já que o próprio câmbio se encarregaria de elevar os investimentos, a mera possibilidade de uma redução da projeção de dispêndios nos próximos anos animou analistas como Gustavo Gattass, do BTG Pactual. Na avaliação dele, a ação da Petrobras subiu ontem porque o governo parece ter decidido colocar um freio nos números da petroleira. E essa mudança de postura estaria acontecendo depois da volta do ministro chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, ao conselho, do qual ele participou quando era ministro da Fazenda.
"O resultado da Petrobras não foi relevante para a alta da ação. O relevante hoje é saber se é verdade ou não que ela vai segurar os investimentos e com isso sua alavancagem" afirma Gattass.
"A Petrobras tem um conjunto fenomenal de ativos, mas se for necessário outro aumento de capital para fazê-lo produzir, o investidor pode não ter interesse de ser acionista hoje", avalia.
A preocupação com os números da Petrobras se justifica pela baixa geração de caixa, pelo ritmo lento do aumento da produção e o fato da companhia não estar conseguindo repassar para os preços da gasolina, diesel e gás de cozinha a alta do petróleo no mercado internacional. Não é à toa que o mercado se preocupa com o aumento dos investimentos 2011-2015, pois à medida que o plano avança na década, começa a incluir a fase mais cara do início da produção no pré-sal.
Segundo o diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, a postergação se deveu apenas a um pedido do conselho de administração de "estudos de sensibilidade" sobre os projetos que não têm prazo para ficarem prontos. "Não vemos razão para isso [preocupação]. É situação absolutamente normal que o conselho de administração queira mais informações de um projeto com tamanha importância."
A discussão sobre o plano deixou o resultado, mesmo que recorde, em segundo plano. Nelson Rodrigues de Matos, do BB Investimentos, observa que o lucro do trimestre foi ajudado pela receita financeira, que foi um pouco acima de R$ 2 bilhões, contra um resultado negativo de R$ 701 milhões no mesmo período de 2010. Já a receita líquida subiu apenas 0,6%. A Petrobras captou US$ 6 bilhões no primeiro trimestre, o que fez a alavancagem aumentar 0,5%, para 17,2%.
Matos, do BB, observa que o resultado só não foi pior porque a Petrobras vendeu menos diesel no mercado interno. "Todo o diesel que não foi vendido deixou de ser importado com custo elevado."
Para um analista que pediu para não ser identificado, o lucro de quase R$ 11 bilhões é resultado da capitalização, mais do que de um bom desempenho. "Se não fosse o petróleo disparar e a receita financeira ter ajudado, o resultado não seria tão bom."
Barbassa evitou fazer cálculos sobre o quanto a companhia poderia ganhar caso a alta dos preços do petróleo tivesse sido repassada integralmente para os preços internos. "A Petrobras pratica política de preços que consiste em não transferir volatilidades para o mercado doméstico. Fazer cálculos de quanto ganharia a mais não tem muito sentido para nós."