Título: Queda das commodities já desacelera o IPA
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2011, Brasil, p. A4

De São Paulo A queda de 7,11% no preço das commodities observada no mercado externo desde o início do mês já teve reflexo no Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) calculado pela Fundação Getúlio Vargas, que veio com desaceleração no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA). O indicador foi de 0,51 para 0,4% entre a segunda prévia de abril e o mesmo período deste mês, puxado por deflação de 0,93% no item produtos agropecuários, onde estão as commodities agrícolas.

Segundo analistas consultados pelo Valor, a desvalorização dos preços das commodities no mercado internacional deve continuar, o que vai contribuir para uma desaceleração contida da inflação no Brasil, contrabalançando o peso da indexação e dos serviços.

O IGP-M subiu 0,66% na segunda medição de maio, acima da taxa de 0,55% registrada em igual intervalo do mês passado, impulsionado por avanço de 0,97% no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e de 1,67% no Índice Nacional de Custo da Construção (INCC). "De fato, há uma piora no IGP-M, mas não é uma piora tão forte como seria na ausência dessa queda de preços nas commodities", comenta Thiago Curado, da Tendências Consultoria.

Para Fábio Ramos, da Quest Investimentos, o IGP-M divulgado ontem não teve desaceleração maior no IPA porque ainda há problemas na oferta de parte de alimentos in natura, afetados por questões climáticas, como a batata inglesa, e porque o minério de ferro é uma commodity com preço ajustado por contratos, não negociado em bolsa. "Não fosse por isso, era para o IGP ter aumentado menos", afirma.

Fábio Silveira, economista da RC Consultores, explica que o processo de declínio no preço de commodities está ligado ao mercado financeiro, que já trabalha com um cenário de baixa nas matérias-primas e por isso busca investir em outros ativos, e "ao mercado real", regido pelas leis de oferta e demanda.

No fim do ano passado, foram feitos estoques desses produtos, como açúcar e algodão, levando em conta uma previsão de crescimento global maior e, portanto, uma demanda mais aquecida. Como essa projeção não se confirmou no primeiro trimestre de 2011, esses estoques contribuíram para a queda de preços.

De acordo com economistas, esse movimento deve trazer a inflação ao consumidor para baixo já em maio, com mais força a partir de junho. "Não há como IPAs e IPCs não declinarem daqui para frente, porque a pressão baixista do mercado de commodities é muito forte", diz Silveira.

Ramos, da Quest, afirma que a depreciação das commodities vai levar em média três meses para aparecer integralmente na inflação. "O que apareceu nos IPCs ainda é só o começo. O fechamento do IGP será menor do que o que apareceu nessa segunda prévia, e a taxa de junho será menor do que a de maio".

É consenso, no entanto, que itens relacionados a serviços e preços administrados, impactados pela indexação, vão continuar a pressionar a inflação, mesmo com um abrandamento no item alimentação, beneficiado pela queda das commodities.