Título: Índice do BC aponta PIB próximo a 5%
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2011, Brasil, p. A4

De Brasília Ao contrário do que vem afirmando o governo, a economia brasileira voltou a se acelerar no fim do primeiro trimestre. A atividade econômica apresentou expansão de 0,51% em março, na comparação com o mês anterior. Em fevereiro, o crescimento havia sido de 0,36%, de acordo com medição feita pelo Banco Central (BC) por meio de seu indicador IBC-Br, dessazonalizado, que tenta antecipar o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB).

No acumulado do trimestre, o IBC-Br registrou avanço de 1,28%, número que anualizado representa um crescimento da ordem de 5,21%. O ritmo, portanto, é superior ao visto no último trimestre do ano passado (4,18% também em termos anualizados), indicando que o Brasil teve um começo de ano de atividade aquecida.

O indicador do BC também aponta que a economia brasileira cresce num nível acima do chamado PIB potencial (cerca de 4,5%), abaixo do qual a economia precisaria crescer durante alguns meses para que o BC consiga trazer a inflação ao centro da meta, de 4,5%. O IPCA acumulado em 12 meses fechou abril em 6,51%, acima do teto superior da meta estabelecida, que aceita oscilações de 2 pontos percentuais para cima e para baixo.

O Banco Central acredita que o ritmo de avanço da atividade econômica mostra desaceleração. Olhando para os dados de forma bruta (sem excluir as sazonalidades do período), de fato o IBC-Br do primeiro trimestre, quando comparado com o mesmo trimestre do ano anterior, foi de 4,38%, menor, portanto, do que o observado no ano passado. No quarto trimestre de 2010, o avanço havia sido de 4,82%, enquanto no terceiro trimestre o crescimento havia sido de 7,22%, na comparação com mesmo período do ano anterior.

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, tem reforçado a cada aparição pública que as ações de política monetária tomadas até agora desde o começo do ano sofrem com defasagens já conhecida, de seis a nove meses.

Segundo técnicos do governo, os resultados das medidas adotadas ficarão mais evidentes a partir do segundo semestre, quando a economia crescerá abaixo do seu potencial. Ainda na avaliação do Banco Central, será preciso que o país cresça abaixo de 4,5% durante alguns trimestres para que haja a convergência dos preços em 2012.

Desde o início do ano, o BC já elevou a Selic em 125 pontos percentuais, para 12% ao ano. Anunciou ainda uma série de medidas macroprudenciais para a contenção do crédito, que teriam um efeito semelhante a uma alta de mais 0,75 ponto percentual. As elevações da alíquota do IOF para os empréstimos também representam um esforço de contenção da demanda, assim como a "consolidação fiscal" realizada pelo governo. Entre janeiro e abril deste ano, o superávit primário deve atingir metade da meta estabelecida para o ano, disse uma fonte.

O mercado está tão otimista quanto o BC. O Boletim Focus mostra que o IPCA deve subir para 6,54% este mês e chegará a 7,27% em agosto. Somente a partir daí apresentará recuo em bases anuais, fechando o ano em 6,33%. Para o próximo ano, a expectativa do mercado é de inflação de 5%. Para o PIB, as previsões apontam para crescimento de 4% neste ano.

Segundo avaliação do banco Barclays Capital, o IBC-Br de março ainda mostra um desempenho muito forte da economia em termos anualizados. Na visão da equipe econômica do banco, o PIB brasileiro fechará o trimestre entre 1,2% e 1,3%, atingindo 3,8% no fim de 2011. O ritmo da demanda, no entanto, permanecerá elevado.

"Apesar de o nosso cenário incorporar uma desaceleração nos próximos trimestres, a demanda doméstica permanecerá robusta, o que pode manter as pressões inflacionárias do lado da demanda, especialmente depois do recuo sazonal esperado para a inflação dos próximos meses", diz a equipe do Barclays. Para os meses de junho a agosto, os economistas esperam um alívio na inflação mensal, que poderia se aproximar de zero. Esse respiro, no entanto, é visto como apenas passageiro