Título: Placar de 266 a 72 derruba convocação
Autor: Zanatta, Mauro ; Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2011, Política, p. A6

De Brasília O chefe da Casa Civil da Presidência, ministro Antonio Palocci, intensificou ontem o contato com as lideranças partidárias e outros integrantes do governo, principalmente filiados ao PMDB, com o objetivo de derrubar a convocação para prestar esclarecimentos aos parlamentares e desvencilhar-se da crise política em que se envolveu após denúncias de que seu patrimônio aumentou 20 vezes em apenas quatro anos. Ontem, ele agradeceu, por telefone, o apoio recebido do vice-presidente, Michel Temer. Temer acabara de chegar a São Paulo, após viagem de três dias a Moscou. Palocci já tinha tentado falar antes com Temer durante a viagem do vice-presidente, sem êxito.

Antes mesmo de qualquer manifestação do PT, Temer foi o primeiro a dizer - ainda na capital russa - que confiava na inocência do ministro. Um pemedebista da cúpula disse que a declaração de Temer foi boa para fustigar o PT, partido com o qual o PMDB disputa cargos e poder na máquina pública federal.

Palocci também procurou outras lideranças do partido. Na noite de terça, conversou pessoalmente com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL) e com o líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR). No final da manhã de ontem, novo encontro, desta vez com o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP) e com o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN). E almoçou com o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio.

O Planalto considerou positiva a derrubada dos requerimentos de convocação de Palocci para que ele fosse à Câmara prestar depoimentos, uma operação bem-sucedida que começou pela manhã. O governo atuou com força para impedir que a oposição colocasse em votação o requerimento de convocação do ministro. Determinou a suspensão dos trabalhos de comissões permanentes em que o assunto pudesse ser tratado. Depois, convocou a base para derrubar requerimentos no plenário, antes tentando impedir que sequer fossem apreciados.

A estratégia foi anunciada às 10h44 pela presidente interina da Câmara, Rose de Freitas (PMDB-ES), que naquele momento deu início à ordem do dia, algo atípico para o horário. Com isso, as comissões foram obrigadas a seguir o regimento da Casa e encerrar seus trabalhos, o que ocorreu em 13 delas. O embate, então, passou a ocorrer no plenário, que se encheu antes mesmo das 12h.

Os líderes do DEM, ACM Neto (BA), e do PSDB, Duarte Nogueira (SP), apresentaram à Mesa Diretora da Casa os requerimentos para que Palocci prestasse aos deputados esclarecimentos sobre a evolução vertiginosa de seu patrimônio. Os governistas, porém, tentaram ignorar a reivindicação e colocar em pauta a votação da medida provisória 517.

Tensas as lideranças, o vice-líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha (RJ), contestou decisões de sua correligionária, a presidente Rose de Freitas, e seguiu o embate em torno das votações dos requerimentos.

Os governistas temiam ser pegos de surpresa a qualquer hora do dia com alguma comissão retomando os trabalhos e aprovando a convocação de Palocci. Temiam também a votação dos requerimentos em plenário.

O líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), acabou convocando a base para derrubar o requerimento de convocação. "Quero pedir à maioria - aqui é uma questão sublime - para dar uma resposta clara de qual é o sentimento da Casa. Querem impedir a Casa de votar seja lá o que for e querem fazer do tema do Parlamento e deste plenário a discussão do Palocci."

Dos presentes, 72 votaram pela convocação de Palocci e 266 foram contrários a ela. O governo concordou, então, em negociar um acordo para a votação de medidas provisórias e do Código Florestal, que se encontravam sob impasse.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou, ontem, que a elevação patrimonial do ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, não configura crime. Para ele, são necessários mais elementos de prova para verificar se houve algum tráfico de influência por Palocci, cujo patrimônio aumentou 20 vezes, desde 2006.

"O salto patrimonial, ainda que em curto espaço de tempo, não constitui ilícito nenhum", disse Gurgel. "É preciso ver se associado a isso existem outros fatos", completou.

Segundo o procurador-geral, é preciso verificar se a empresa de consultoria de Palocci - a Projeto - prestou serviços para companhias com interesse em negócios do governo e quais as atitudes que ele, enquanto ministro ou deputado, tomou para supostamente favorecer essas empresas.

O procurador-geral vai pedir mais informações para Palocci para verificar se inicia investigações contra ele ou não. O ministro vai ter 15 dias para responder, a partir do momento que o pedido chegar até ele. O pedido deve ser enviado até o fim desta semana.