Título: PT gaúcho recusa convite de Fortunati
Autor: Moura, Paola de
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2011, Política, p. A10

De Porto Alegre A executiva municipal do PT decidiu permanecer na oposição e rejeitar o convite do prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), para o partido ingressar no governo municipal. Mesmo assim, a decisão não fechou as portas para negociações sobre um eventual apoio dos petistas à reeleição do pedetista no ano que vem.

Segundo o presidente municipal do PT, vereador Adeli Sell, a executiva optou por ficar fora da administração atual para não "contaminar" as discussões sobre o programa de governo e as alianças para 2012. Defensor da candidatura própria, ele admite que isso não significa descartar o apoio ao PDT na próxima eleição.

O presidente do PT no Estado, Raul Pont, reforçou que as alianças municipais no Rio Grande do Sul em 2012 deverão se pautar pela "sustentação" do governo estadual comandado pelo petista Tarso Genro e que conta com o apoio, entre outros, do PDT. Para ele, os acordos deverão ainda preparar o terreno para 2014, quando Genro provavelmente tentará a reeleição.

O próprio Fortunati não espera uma decisão rápida. Ex-petista, ele conhece os meandros das instâncias decisórias do PT e entende que o convite foi uma "demonstração pública" da vontade de aproximação com o partido na cidade, pois o PDT já está na base de apoio tanto do governo Genro quanto da presidente Dilma Rousseff.

A principal barreira à entrada do PT na prefeitura foi a composição do governo Fortunati. Ele assumiu o cargo após a renúncia de José Fogaça (PMDB), que concorreu ao governo estadual em 2010, e herdou uma aliança que inclui, além dos pemedebistas, o DEM, o PPS e o PSDB, todos adversários ferrenhos dos petistas gaúchos.

O problema, agora, é que a tentativa de aproximação do PDT criou um dilema a mais para o PT, que vinha debatendo se deveria sair com candidatura própria ou, pela primeira vez desde a fundação, apoiar um nome de outro partido. A possibilidade foi levantada pelo próprio governador logo após a eleição, no ano passado, e até aqui o nome mais cotado era o da deputada federal Manuela D"Ávila (PCdoB).

Enquanto o PDT concorreu coligado ao PMDB no primeiro turno em 2010 e aderiu ao governo do PT depois da vitória de Genro, Manuela foi aliada de primeira hora dos petistas e conta com o apoio da sigla em 2012. Por isso, interlocutores da deputada criticaram o movimento de Fortunati, que com a oferta de cargos ao PT teria "despolitizado" as negociações para o ano que vem.

Pont reconhece que Manuela é um nome "forte" para concorrer à prefeitura e que a decisão do PT não será fácil. A deputada foi a mais votada no Estado para o cargo em 2010, com 482,6 mil votos, mas a estrutura do PDT no Rio Grande do Sul também é sedutora. Os pedetistas somam 67 prefeitos e 695 vereadores, enquanto os petistas têm 63 prefeitos e 550 vereadores, por exemplo.