Título: Programa do PSB faz críticas veladas ao PT
Autor: Agostine, Cristiane ; Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2011, Política, p. A11

De São Paulo

Em 2002, na campanha do então candidato do PT à Presidência, o slogan bem bolado, depois de três derrotas consecutivas, exclamava como que num pedido de licença, de quem já está impaciente: "Agora é Lula!"

Após oito anos de administração petista e pelo menos mais quatro, da presidente Dilma Rousseff, é a vez do aliado PSB - leia-se o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente da sigla - se posicionar como o primeiro da fila: "Agora, eu quero mais. Eu quero o novo".

No programa partidário levado ao ar ontem à noite, Campos reforçou o recado que havia lançado nos cinco spots de 30 segundos exibidos ao longo da semana passada. Bate na tecla de que o PSB é o novo caminho para o país.

Das várias passagens, algumas repletas de trilhas, estradas e outros simbolismos - como a corrida de revezamento em que um atleta cansado passa o bastão para seu colega de equipe - uma se destaca, pela semelhança com o mote de 2002.

Na sequência, brasileiros se alternam no relato de suas conquistas recentes. "Nos últimos anos, minha vida melhorou. Mudei de casa [aparece uma família na nova moradia], entrei na faculdade [surge uma jovem estudante], comprei meu fogão [diz uma dona de casa], realizei um sonho [conta uma mãe amamentando]", para em seguida vir a mensagem principal: "Agora, eu quero mais. Eu quero o novo".

O foco ainda não é sobre um candidato. Não poderia. E nem precisaria. Eduardo Campos domina o programa como protagonista. Apresenta as propostas do partido e concede espaço a seus colegas de maior peso. Os demais cinco governadores do PSB ganham tempo protocolar e de igual duração, pela ordem em que aparecem: Renato Casagrande (Espírito Santo), Camilo Capiberibe (Amapá), Ricardo Coutinho (Paraíba), Cid Gomes (Ceará) e Wilson Martins (Piauí).

Eduardo Campos e o PSB abrem caminho numa estratégia cujo tom é ao mesmo tempo respeitoso e sem cerimônia com os laços e alianças da relação com o PT. Aliados, aliados; projeto de poder à parte.

Reconhece os avanços alcançados pelo "projeto que foi iniciado sob o comando desse grande brasileiro, o presidente Lula". Mas afirma que "a nossa relação com o governo da presidenta Dilma Rousseff vai muito além de uma simples aliança. Na verdade é um compromisso, um compromisso firmado em cima de princípios e de metas para o Brasil, um compromisso de quem partilha a construção, de um projeto comum", diz Campos.

"Partilhar a construção" significa entender que "o Brasil é maior do que todos". Na abertura da propaganda, Eduardo Campos ressalta que o país agora é respeitado nos quatro cantos do mundo, que vive um momento muito especial, com democracia, desenvolvimento social, crescimento econômico.

"Mas isso é só o começo. Ainda há muito a ser feito. E a gente tem o compromisso de não deixar a peteca cair, de levar esse país cada vez mais longe. Para isso é que precisamos ter um novo caminho para esse novo Brasil", defende Eduardo Campos.

E onde a peteca está caindo? Aí entram as críticas, ainda que veladas. Diz o narrador: "O novo não está no discurso, mas no fazer. [...] O novo não é dourar a pílula, prometer obras que nunca serão feitas, fingir que vão acontecer coisas que jamais acontecerão. O novo é fazer. É levar para todo o Brasil uma cultura do fazer".

A referência ao atraso nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) parece mais do que evidente, assim como a demarcação de um discurso construído por governadores e outros quadros do partido: o PSB não é o partido de longos debates ideológicos, como o PT. Consiste mais na ação, do que no pensamento supostamente estéril e carregado de ideologia.

O PSB, não. É da meritocracia.

"É por isso que combatemos tanto o empreguismo e investimos para valer no mérito da pessoa. É por isso que insistimos tanto na necessidade da gestão moderna e eficaz", diz Renato Casagrande.

"Estamos implementando um jeito PSB de governar, criando novos caminhos, com planejamento, definição de metas e cobrando resultados", propaga Wilson Martins, um ex-tucano.

Por sinal, a heterodoxia do PSB, afeito a recrutamento e alianças à esquerda e à direita, não é esquecida. É apontada como vantagem no discurso final de Eduardo Campos. "O PSB tem a mais clara convicção de que é possível reiventar a política, de que é possível juntar os bons, em vez de alimentar disputas e rivalidades [...]. Daí nossa abertura, nossa disposição para o diálogo, com forças e personalidades políticas de outros partidos, desde que o objetivo seja sempre a construção da nova realidade social brasileira".