Título: Kassab aposta em ex-petista para disputa em 2012
Autor: Agostine, Cristiane ; Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2011, Política, p. A11

De São Paulo

O secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge, do PV, é a aposta do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, para disputar sua sucessão em 2012. A temática ambiental, representada pelo secretário, pode ajudar o prefeito a evitar a exposição das fragilidades de seu governo e a tendência ideológica de seu novo partido, o PSD.

À frente da fundação da legenda, Kassab busca um nome com boa aceitação em diversos segmentos eleitorais e uma bandeira que tire do centro do debate áreas em que sua gestão é mal avaliada.

Eduardo Jorge tem bom trânsito no PV, PT e PSDB. Médico sanitarista, com atuação nas áreas de saúde pública e ambiental, foi um dos fundadores do PT. Pelo partido elegeu-se deputado estadual e federal e foi secretário de saúde nas gestões petistas de Luiza Erundina e de Marta Suplicy na Prefeitura de São Paulo. Na saúde, Eduardo Jorge ajudou na formulação do Sistema Único de Saúde (SUS). Como parlamentar, manteve relação próxima ao tucano José Serra quando este ocupava o Ministério da Saúde, ajudando a criar leis que vinculavam recursos orçamentários ao SUS e a permitir a fabricação de medicamentos genéricos.

A boa relação com Serra rendeu a indicação à secretaria do Verde e do Meio Ambiente, em 2005, quando Serra assumiu a prefeitura paulistana, cargo que ocupa até hoje.

Em 2003, Eduardo Jorge deixou o PT e ingressou no PV. No partido, o secretário faz a ponte entre os grupos da candidata presidencial derrotada Marina Silva e do presidente da sigla, deputado José Luiz Penna.

Dirigentes da legenda citam, além da pré-candidatura de Eduardo Jorge, outros dois nomes com chance para a disputa municipal: Ricardo Young e Fabio Feldman, que disputaram as eleições de 2010 pelo PV. Na semana passada os três pré-candidatos reuniram-se para debater a sucessão municipal. Marina tem participado de perto da definição. Apesar da articulação em torno de seu nome, o secretário não quis comentar sobre sua eventual pré-candidatura.

"Há o desejo de Kassab de o candidato o PV ser o Eduardo Jorge e é evidente que esse apoio é importante. Mas vamos definir isso dentro do partido", comenta o presidente do PV de São Paulo, Maurício Brusadin. O comando partidário, no entanto, vê vantagens na candidatura do secretário, como a boa relação com outros partidos, a experiência na área da saúde e a visibilidade que ganhou na pasta ao longo dos últimos seis anos.

Ao exibir bandeiras na área ambiental, Eduardo Jorge poderá tirar os principais problemas da atual administração do foco da campanha eleitoral. O secretário poderá exibir, entre suas principais ações, a implementação do programa de inspeção veicular, direcionado para melhorar a qualidade do ar na cidade; a ciclofaixa; o crescimento do número de áreas verdes, como os parques municipais; e a obrigatoriedade da instalação do sistema de aquecimento solar em novas construções.

Ao apoiar o secretário do Verde e Meio Ambiente como seu sucessor na disputa municipal, Kassab tentará minimizar as críticas à gestão nas áreas de Educação, Saúde e Transporte, relativas ao não cumprimento de promessas de campanhas como a de zerar o déficit de vagas em creches; a construção de hospitais na periferia e de corredores de ônibus e a renovação da área da cracolândia com o projeto Nova Luz.

O PV participa do governo Kassab com duas secretarias apoiou a reeleição do prefeito em 2008. O prefeito deu ao partido a liderança do governo na Câmara Municipal, com o vereador Roberto Trípoli.

Apesar de contarem com o apoio de Kassab para a pré-candidatura de Eduardo Jorge, dirigentes do PV dizem que a situação mudará se José Serra for o candidato do PSDB à disputa. Kassab ficaria ao lado do tucano, a quem sucedeu na prefeitura.

No PT paulistano, a aposta é de que Kassab vai mesmo apoiar Serra em 2012. Segundo o presidente do diretório municipal, vereador Antonio Donato, Kassab tenta se descolar de Serra ao sinalizar o lançamento da candidatura de Eduardo Jorge. "Mesmo que o candidato do PSDB não seja o Serra, Kassab vai apoiar, é o campo político dele", afirmou Donato.

O PT ainda não definiu o candidato. A escolha deve se dar entre a senadora e ex-prefeita da capital paulista Marta Suplicy e os ministros Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) e Fernando Haddad (Educação). "Nossa campanha vai ser de oposição ao Kassab", disse o presidente do PT municipal.

Desde que anunciou a fundação do PSD, ao sair do DEM, o prefeito Kassab tem afirmado que pretende sair do campo oposicionista. O prefeito distribuiu secretarias a diversos partidos da base aliada do governo federal, como PCdoB e PMDB, partido que se prepara para lançar à disputa a prefeito de São Paulo o nome do deputado federal Gabriel Chalita, de saída do PSB.

Chalita foi secretário do governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin, mas apoiou Dilma Rousseff na campanha eleitoral do ano passado, depois de migrar do PSDB ao PSB. Dentro do PMDB há desconfiança em relação à Chalita. "Ele é o cavalo de Troia que Alckmin colocou dentro do PMDB", resume um dirigente do partido. Já o dirigente municipal do PT confia na coligação com o PMDB em eventual segundo turno. "O Chalita foi leal a Dilma, essa aliança no segundo turno está fechada", afirmou o petista.