Título: Paranoia contra os grampos dos rivais
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 15/08/2010, Política, p. 2

Principais articuladores de campanhas nacionais investem alto para evitar vazamentos de informações estratégicas por meio de escutas ilegais

Uma antena, um computador de boa configuração e um software específico. Pronto. Com pouco mais de R$ 1.500, qualquer aficionado por tecnologia constrói um grampo telefônico. Mas se o cidadão comum teme essa banalidade na invasão de suas conversas, não seriam os presidenciáveis que se descuidariam da privacidade. Não mesmo. O Correio conversou com aliados dos três principais candidatos à Presidência para saber os cuidados tomados a fim de evitar vazamentos durante a campanha. Apesar das estratégias diferenciadas, os concorrentes são unânimes no cuidado e admitem um estado de paranoia.

Do chamado telefone vermelho para o celular criptografado (veja quadro), tucanos, petistas e verdes protegem as informações sigilosas da campanha. O candidato José Serra (PSDB) é considerado o mais cuidadoso. Sabe detalhes das técnicas de interceptação de voz e evita a presença de smartphones nas salas onde vai realizar alguma conversa mais reservada.

Já durante a campanha, o presidente de um partido contou ao Correio que antes de se reunir com Serra foi questionado se estava com o celular. O político respondeu que sim e mostrou o aparelho desligado. Mesmo assim, o tucano pediu que o telefone ficasse do lado de fora da sala. Especialistas em tecnologia informam que alguns aparelhos modernos podem funcionar, mesmo desligados, como um microfone para captar som ambiente. O porta-voz da campanha de Serra, deputado João Almeida (PSDB-BA), afirma que nunca presenciou o gesto, mas que a atitude é típica do presidenciável. Nunca participei de nenhuma reunião em que ele tivesse feito isso, mas é muito o estilo dele.

Para fugir de ataques direcionados, que, diferentemente dos grampos por rastreamento, captam a conversa de um número específico, o conhecido recurso da linha exclusiva resolve muita coisa. Coordenador da campanha do candidato do PSDB ao governo de São Paulo, o deputado José Aníbal (PSDB-SP) conta que tem um telefone exclusivo para falar com Geraldo Alckmin. Aníbal, que já foi vítima de escutas, afirma que cumprimenta os operadores do grampo quando usa o telefone comum. É como dizia o Tancredo Neves, telefone é só para marcar reunião.

Criptografia Para tentar criar uma espécie de ambiente fechado para as conversas a longa distância, petistas ligados à campanha de Dilma Rousseff (PT) investiram em celulares criptografados. De acordo com aliados, pelo menos cinco pares desse tipo de aparelho foram adquiridos para garantir a segurança das informações trocadas durante as viagens de campanha. Como a manutenção desse tipo de aparelho custa caro, cerca de R$ 5 mil por licença adquirida, nem todos optam pela linha fechada. Quando a gente ouve um barulho estranho, troca de número, resume o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Candidato a deputado federal e um dos coordenadores da campanha de Marina Silva, Alfredo Sirkis (PV) conta que no comitê verde todos conversam como se estivessem sendo constantemente vigiados. A gente parte do princípio de que está tudo grampeado. Quando temos uma estratégia de campanha que gostaríamos que o adversário não soubesse, evitamos essa situação. Sirkis se esquiva, no entanto, de falar sobre o uso de celulares criptografados. Essa paranoia está acima da nossa capacidade de pagar pela nossa paranoia. Mas, mesmo se a gente tivesse, eu não diria, afirma.

A dita paranoia eleitoral tem rendido bons resultados aos especialistas de segurança. A empresa Gold Lock, que trabalha com tecnologia israelense de proteção de dados de voz, negociou só durante os primeiros meses das eleições 500 licenças de criptografia de celulares para partidos políticos. As disputas são acirradas e o ímpeto da obtenção de informações sobre o adversário pode superar os limites da legalidade, afirma o diretor da empresa no Brasil, Marcelo Copeliovitch.