Título: Para analistas, emergentes precisam pressionar
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2011, Internacional, p. A12

De Brasília

É forte a chance de um não europeu passar a dirigir o FMI, mas a novidade exigirá atuação intensa de países interessados, como o Brasil, acreditam especialistas internacionais reunidos ontem em Brasília para o Encontro Nacional de Estudantes de Relações Internacionais. "Os países emergentes têm bons candidatos, como o indiano Montek Singh Alwallia", sugeriu o diretor do Grupo de Pesquisas do G8 da Universidade de Toronto, John Kirton, para quem os países do G20 deverão respeitar o compromisso de ceder a direção do FMI a um não europeu.

"O que importa ao Brasil não é a discussão sobre o indivíduo [que substituirá Strauss-Kahn], mas ter alguém que preste contas", lembrou a especialista Ngaire Woods, da Universidade de Oxford.

A queda do diretor-gerente abriu uma "enorme brecha" na governança global, diz ela - por ocorrer no momento em que a Europa contava ter alguém de confiança responsável não só por coordenar as posições dos próprios europeus em relação a um futuro salvamento da Grécia, como por convencer outros países a emprestar dinheiro do Fundo aos países europeus em crise.

Tanto Kirten quanto Woods concordam que, ao contrário do que acredita o governo brasileiro, a emergência do G-20 não acabou com o G-7. Os o países do G-7, que reúne Estados Unidos, Japão, Canadá e os quatro maiores países europeus, coordenam suas posições antes das reuniões do G-20, com mais força para enfrentar questões levantadas isoladamente por governos como o do Brasil, lembrou Ngaire Woods. Ela comentou que só mais recentemente o Brasil começou a atuar de maneira semelhante, coordenando posições com os Brics.

Para Kirten, o G-7 mostrou capacidade de ação no socorro ao Japão contra os ataques especulativos que ameçaram desestabilizar as moedas asiáticas. Também foi reforçada a aliança entre os países desenvolvidos quando governos de nações em desenvolvimento mostraram pouca sensibilidade para o risco de crise na Irlanda, uma preocupação séria do G-7 no início da crise financeira global.

Kirten, um dos maiores especialistas em instituições de governança global, diz ser difícil que a ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, deixe o posto para assumir o FMI, como se especula, até porque tem sido um integrante fundamental para os interesses europeus no G-20 e no próprio governo francês. O futuro diretor-geral terá de reunir qualidades de um ministro da Fazenda e de um dirigente do banco central, com conhecimentos maiores que os antecessores no posto sobre temas como supervisão e regulação bancária, além dos mecanismos tributários e de finanças internacionais.

A queda de Strauss-Khan, acusado de comportamento condenável é "verdadeiramente trágica", por se tratar de autoridade engajada na batalha pela ética no sistema financeiro, lamenta o especialista.