Título: Consórcio de carro escapa de medida do BC e cresce 40%
Autor: Marques, Felipe
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2011, Finanças, p. C10

De São Paulo

Desde dezembro, quando o Banco Central baixou medidas que restringiram o financiamento de veículos, o consórcio ganhou competitividade. Apesar disso, executivos das empresas não acreditam que a autoridade monetária possa agir para esfriar os negócios com consórcios.

É o caso de José Henrique Silva, gerente executivo de empréstimos e financiamentos do Banco do Brasil, que explica que a compra de uma cota de consórcio não implica consumo imediato, já que o consorciado tem que esperar pelo sorteio ou guardar dinheiro para fazer um lance. Dessa forma, o consórcio é encarado como uma forma de poupança.

Em dezembro, o BC aumentou a necessidade de capital dos bancos nos financiamentos de veículos de prazo mais longo ou, como alternativa, passou a exigir uma entrada maior do consumidor. Isso fez com que a parcela do consórcio ficasse mais interessante, comparativamente, e impediu o financiamento de manter os níveis de crescimento que tinha no ano passado.

"O consórcio oferece oportunidades para quem não quer ou não consegue obter financiamento", diz Paulo Rossi, diretor executivo da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac).

Numa simulação feita pela Abac de uma carta de crédito para compra de carro de R$ 40 mil, com prazo de 60 meses, o valor da prestação média é de R$ 838. A conta embute uma taxa de administração cobrada pela empresa de consórcio de 0,25% ao mês e um reajuste mensal de 0,3%.

No caso de um financiamento de veículo de R$ 40 mil pelos mesmos 60 meses, com taxa de juro de 2% ao mês e tarifa de abertura de crédito de R$ 600, a prestação mensal é de R$ 1,2 mil. Muitas vezes, entretanto, os bancos fazem promoções que podem reduzir essa parcela.

Gisele Paula, gerente de marketing da Embracon, que atua no mercado de consórcios, acredita que essa vantagem fará com que o consórcio pegue parte do mercado do financiamento. "As pessoas não deixaram de comprar. Quem não consegue o financiamento, tem migrado para o consórcio", diz.

Fernando Tenório, diretor da Bradesco Consórcio, concorda. Porém, opina que consórcio e financiamento não competem diretamente. "As direções do crédito e do consórcio são paralelas. O que temos observado é uma combinação entre os dois", diz.

Francisco Coutinho, superintendente executivo da Rodobens, concorda. "Consórcio e financiamento não são contrários. Tudo depende de programação e urgência do cliente".

Para Coutinho, o consórcio atrai, em especial, a "turma do upgrade" - ou seja, quem já tem carro, sonha com um novo, mas precisa pagar uma parcela "que caiba no bolso dele".

É da "turma do upgrade" que faz parte Alexandra Roberta da Silva. O valor que "cabe no bolso" foi o que a incentivou a trocar o financiamento pelo consórcio na hora de comprar um carro novo. Desde o primeiro veículo que comprou, ela sempre usou o financiamento. No fim do ano passado, quando decidiu trocar seu Celta, foi à concessionária tentar uma linha de crédito e ofereceu o usado de entrada. "Descobri que meu carro não valia nada. Foi uma surpresa", conta. Graças ao conselho do pai, Alexandra decidiu mudar a estratégia. Atraída pelo valor do carro da montadora chinesa Chery, resolveu entrar num consórcio via internet.

"O que mais me interessou foi o valor da parcela do consórcio em relação à do financiamento", diz. Como não precisava do carro imediatamente, Alexandra topou esperar até a contemplação. Contudo, a espera deve acabar logo. "Estou pensando em dar um lance assim que receber minhas férias. Quem sabe eu não mantenho os dois carros?", diz.

(Colaborou Adriana Cotias)