Título: Bolsa tem sim uma tendência, e é de queda
Autor: Camba, Daniele
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2011, Investimentos, p. D2

Essa história de que a bolsa não tem uma tendência definida é uma meia verdade, na melhor das hipóteses. Ela tem, sim, uma direção, e é de queda. Esse movimento é claro, especialmente nos últimos dois meses. No começo de abril, o Índice Bovespa estava próximo dos 70 mil pontos. Desde então, com exceção de alguns dias de alta, o indicador veio caindo, caindo, e ontem já estava na casa dos 62 mil pontos, especificamente 62.367 pontos, a um triz de voltar aos 61 mil pontos. O fechamento de ontem é o menor desde 16 de julho do ano passado, quando encerrou aos 62.339 pontos. Desde a maior pontuação de abril pra cá, o Ibovespa acumula uma queda de 10,70%.

É interessante perceber como, dia após dia, o índice vai perdendo níveis importantes. Saiu dos 70 mil pontos para os 65 mil e, pelo andar da carruagem, agora caminha a passos largos para entrar na casa dos 50 mil.

Para o diretor da Ativa Corretora Álvaro Bandeira, na falta de notícias positivas que tirem o mercado desse ciclo vicioso, o investidor aproveita altas de curtíssimo prazo para vender os papéis, colocar o ganho, mesmo magro, no bolso e esperar o cenário se definir melhor. "Com tantas indefinições, o investidor quer é ficar com pouca coisa na carteira, e por muito tempo", explica Bandeira.

Índice Bovespa cai 8 mil pontos do mês passado para cá

Segundo ele, existe também um fator técnico que amplifica a tendência de queda que é o recente crescimento do aluguel de ações. O diretor da Ativa cita como exemplo o aluguel em papéis como Petrobras, Vale, Gerdau e OGX. "Ninguém aluga para ficar sentado na ação, se o investidor aluga é porque acha que vai cair e, portanto, quer vender antes, o que acaba contribuindo para o movimento de queda do preço", explica Bandeira.

Ele acredita que este momento de baixa pode ser uma boa oportunidade para o investidor conseguir comprar boas ações que estão bastante desvalorizadas. Na visão do diretor da Ativa, o mercado deve voltar a subir na hora que o cenário internacional de inflação e recuperação econômica se definir melhor, o que, ele acredita, deve ocorrer ainda este ano.

Por mais que isso de fato se concretize, Bandeira acredita que fica cada vez mais complicado o Ibovespa chegar no fim do ano à casa dos 80 mil a 85 mil pontos, que é o intervalo das projeções das principais áreas de análise. "Voltar aos 70 mil pontos me parece algo bem mais factível do que alcançar os 85 mil que se imaginava no começo do ano", arrisca Bandeira.

Daniele Camba é repórter de Investimentos

E-mail daniele.camba@valor.com.br