Título: Para Jobim, UPPs só combateram parte do tráfico
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Fonte: Valor Econômico, 18/05/2011, Brasil, p. A2
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse, ontem, que teme que os Estados parem de investir em segurança e queiram transferir essa tarefa para as forças armadas. Segundo ele, a aliança entre governo federal e estadual no combate à violência no Rio de Janeiro poderia levar outros governos regionais a transferir responsabilidades. "A parceria da esfera estadual com o governo federal está dando muito certo e isso me dá medo, porque os Estados podem começar a querer parar de investir em segurança e transferir isso para as Forças Armadas", afirmou Jobim.
O ministro participou ontem do 23º Fórum Nacional, na sede do Banco nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para o ministro, o uso das Forças Armadas no apoio à segurança pública dos Estados deve ser "episódico" e não pode ser banalizado.
Apesar de elogiar a parceria, Jobim minimizou seus resultados. Ele afirmou que as unidades de polícia pacificadora (UPPs) não significam o fim do tráfico de drogas, significam apenas "o fim do tráfico de drogas medieval como se praticava no Rio". Ele lembrou ainda que o tráfico de drogas acaba sendo um meio de subsistência para quem trabalha com os serviços em torno disso.
"O narcotráfico possibilita a subsistência. Não se pode tratar o narcotraficante com a mesma lógica judicial usada para as pessoas que prestam serviço porque não têm trabalho nem na atividade formal privada, nem na pública, nem nas atividades informais. Assim nasce a criminalidade, primeiro a desorganizada, de pequenos delitos, e posteriormente a criminalidade organizada", ponderou.
Na sequência, o ministro da Defesa entrou em conflito com a Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan). Para Jobim, há uma ausência de cursos profissionalizantes do chamado Sistema S nas favelas pacificadas. "A pergunta que eu faço aos senhores é: onde está o sistema S nas favelas do Rio? Não conheço. Onde está o sistema S, a Firjan, no morro do Alemão? "
O gerente de Infraestrutura e Novos Investimentos da federação, Cristiano Prado, respondeu, depois da saída do ministro da Defesa, que o programa Sesi Cidadania (de cursos profissionalizantes) atua em 15 das 17 favelas pacificadas do Rio. O complexo do Alemão ainda não tem UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). A Firjan classificou as declarações do ministro de "deselegantes, descabidas e desinformadas". (Agências noticiosas)