Título: Fortunati atrai PT e muda cenário em Porto Alegre
Autor: Bueno , Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2011, Política, p. A8

A oferta feita pelo prefeito José Fortunati (PDT) para que o PT ingresse no governo municipal balançou o tabuleiro da eleição do ano que vem em Porto Alegre. Até agora os petistas discutiam se deveriam sair com candidatura própria ou apoiar a deputada federal Manuela D"Ávila (PCdoB), com maiores chances para a segunda hipótese. Com a nova proposta, passaram a cogitar a participação na prefeitura e o apoio à reeleição de Fortunati de olho no suporte do PDT no primeiro turno de 2014, quando o governador Tarso Genro (PT) deverá buscar o segundo mandato. O PDT já faz parte do governo estadual petista, mas isso depois de ter concorrido coligado com o PMDB em 2010, e está na base do governo Dilma Rousseff. Além disso, Fortunati, um ex-petista, goza de boa popularidade (em dezembro foi escolhido como o terceiro melhor prefeito em uma pesquisa do Datafolha em oito capitais) e o PDT dispõe de uma estrutura robusta no Estado, com 67 prefeitos, 62 vices, 695 vereadores, sete deputados estaduais e três federais. O PT tem 63 prefeitos, cerca de 40 vices, 550 vereadores, 14 deputados estaduais e oito federais.

"Temos que ouvir o diretório municipal, mas a política estadual é que conduz as coisas", admite o presidente do PT no Rio Grande do Sul, deputado estadual Raul Pont. De acordo com ele, a linha do partido é reforçar a aproximação e as campanhas pela reeleição dos prefeitos das siglas que apoiam o governo Genro. Ele reconhece que a oferta de Fortunati tornou a situação mais "complicada", pois passou a envolver três possibilidades "no mesmo bloco" (candidatura própria, apoio à Manuela ou a Fortunati), e diz que por enquanto "nada está amarrado".

O que joga contra a entrada do PT na prefeitura é a configuração do governo de Fortunati, que gera resistências entre muitos petistas e vinha sendo o principal motivo para a inclinação do partido, inclusive do governador do Estado, em apoiar Manuela. O pedetista assumiu o lugar do ex-prefeito José Fogaça (PMDB), que renunciou no ano passado para concorrer ao governo estadual, e herdou uma aliança que inclui, além do PMDB, o DEM, o PPS e o PSDB, todos adversários históricos do PT no Estado. O PTB está na prefeitura e também na base de apoio de Genro.

Manuela prefere não comentar o assunto. Interlocutores da deputada, porém, dizem que a decisão de Fortunati de oferecer cargos em troca de apoio do PT foi um "erro" porque "despolitizou" o debate, e confirmam que a candidatura da parlamentar é "prioridade nacional" do PCdoB em 2012. Pelo PMDB, o presidente municipal da sigla, vereador Sebastião Melo, preferia reproduzir a aliança com o PDT em 2012, mas ele garante que o partido não criará problemas para a entrada do PT na prefeitura e admite que um eventual acerto entre pedetistas e petistas joga os pemedebistas para uma candidatura própria ou para uma nova coligação.

Segundo Fortunati, a última reunião do diretório nacional do PDT, há dois meses, estabeleceu que a reeleição em Porto Alegre é prioridade para o partido. Depois disso, na semana passada, o presidente estadual da sigla, Romildo Bolzan Júnior, apresentou a proposta de participação na prefeitura a Pont. "O PDT compõe os governos Dilma e Tarso e não podemos desconhecer que a relação direta com os governos estadual e federal ajuda a cidade", disse o prefeito. De acordo com ele, o PT governou Porto Alegre durante 16 anos e tem "larga experiência político-administrativa".

O prefeito também reforçou o convite ao presidente municipal do PT, vereador Adeli Sell, mas antes consultou o PMDB e o PTB. Ele ainda não falou a respeito do assunto com o DEM e o PSDB e disse que está pronto para ouvir as condições que eventualmente serão apresentadas pelos petistas para aceitar a proposta. Elas incluirão, no mínimo, uma nova política de aliança em 2012, desta vez sem a participação de tucanos, democratas, do PPS e do PMDB.

Sell, que "em princípio" defende a candidatura própria do PT em 2012 e coloca-se como pré-candidato para a disputa, confirma que há "resistências" das bases em aceitar a entrada do partido no governo Fortunati, mas prega "cautela" no caso para não precipitar decisões. O assunto começou a ser debatido ontem à noite na executiva municipal e para o petista também seria um equívoco simplesmente "descartar" o PCdoB em 2012, pois junto com o PSB o partido ajuda a dar "consistência ideológica" ao governo Genro.