Título: Aliados e oposição cobram fontes de receita
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2011, Política, p. A10

Oposição e governo definiram ontem suas estratégias de ação em relação à notícia da evolução patrimonial do ministro Antonio Palocci (Casa Civil), mas manifestam preocupações trocadas.

Partidos oposicionistas tomaram providências para cobrar informações e pedir apuração do Ministério Público dos "indícios de enriquecimento ilícito e tráfico de influência" do ministro. Reservadamente, no entanto, avaliaram que Palocci terá - legalmente ou não - condições de comprovar o aumento do seu patrimônio de R$ 375 mil em 2006 para cerca de R$ 7,5 milhões em 2010. Ele poderá obter notas e recibos "frios", por exemplo, de empresas.

Parlamentares aliados do governo, por sua vez, receiam eventual surgimento de fatos novos, que comprometam Palocci. Saíram a campo para defendê-lo, apesar do incômodo com a falta de explicações sobre as consultorias prestadas quando deputado, que justificariam o patrimônio.

A Casa Civil encaminhou ontem, por e-mail, mensagem assinada pelo assessor especial do ministro, Thomas Traumann, para as lideranças partidárias no Senado. Nele Palocci nega irregularidade na atuação da empresa Projeto.

Após alguns petistas mostrarem desconforto e cobrarem mais informações, o ministro mandou recado para a bancada do PT no Senado: ele não pode revelar as empresas para as quais prestou consultoria nem detalhes dos serviços prestados por causa das cláusulas de confidencialidade existentes nos contratos. Disse que, se houver divulgação, poderá responder judicialmente.

O recado de Palocci foi transmitido pelo líder Humberto Costa (PT-PE) à bancada que se reuniu pela manhã para uniformizar o discurso. À tarde, repetiu da tribuna. Costa esteve no Palácio do Planalto com Giles Azevedo, chefe do gabinete pessoal da presidente Dilma Rousseff. Foi por meio dele que Palocci enviou a justificativa.

Embora insatisfeitos, os petistas disseram considerar suficiente o fato de Palocci ter entregue as informações à comissão de ética da Presidência da República e ter declarado à Receita Federal. A bancada do PT reuniu-se para tentar acertar a estratégia de ação na defesa do ministro.

A ideia era evitar muitas manifestações, que soariam como provocação para a oposição. Mas a estratégia não durou. Vários petistas usaram o microfone, depois que o líder do DEM, Demóstenes Torres (GO), leu da tribuna a representação em que os partidos de oposição pedem apuração do Ministério Público. "Todo mundo está pensando que o ministro enriqueceu ilicitamente, porque é difícil uma pessoa enriquecer tão rapidamente", disse Demóstenes, cobrando informações do ministro sobre as empresas e os serviços prestados.

"Não estamos falando de uma pessoa qualquer. Ele é o ministro mais importante do governo. E quanto Lula e Fernando Henrique já aumentaram seu patrimônio fazendo palestras? Essa questão não é excepcional", disse Marta Suplicy (PT-SP), que considerou um "exagero" a reação da oposição. Em outro tom, Lindbergh Faria (PT-RJ) elogiou "a cautela da oposição".

Cautela é, de fato, um sentimento presente entre os oposicionistas. "Nossa intenção não é criar um movimento de desestabilização do governo. É criar condições para que o ministro se explique", afirmou o senador Aécio Neves (PSDB-MG), após reunião da bancada no Senado. "A hora é de serenidade para aguardar as informações e firmeza para cobrar esclarecimentos", disse. Segundo ele, "ninguém quer prejulgar".

Na véspera, os tucanos, desarticulados, não haviam se manifestado. Tanto que o líder, Álvaro Dias (PR), evitou o plenário porque não queria falar sobre o assunto sem uma posição da bancada. "Cabe ao ministro explicar [a evolução patrimonial]. A justificativa pode até ter lógica, mas tem que ter comprovação", afirmou Dias.

Lideranças do partido na Câmara dos Deputados participaram da reunião de ontem para definirem ação conjunta da oposição nas duas Casas. Os deputados tentariam aprovar convocação do ministro para dar explicações à Câmara - até porque ele foi deputado- e pediriam informação ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e à Receita Federal (ver página 10). O ofício questionando se o Coaf identificou movimentação financeira atípica do ministro foi protocolado ontem no Ministério da Fazenda.

Foram apresentados requerimentos de informação à Receita e à Controladoria Geral da União e de convite ao ministro para prestar esclarecimentos à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara. No Senado, PSDB, DEM, PPS, PSOL e o pemedebista dissidente Jarbas Vasconcelos (PE) assinaram representação pedindo investigação da Procuradoria Geral da República.