Título: Desaceleração econômica já reduz oferta de trabalho
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Fonte: Valor Econômico, 18/05/2011, Opinião, p. A14

Em sua primeira participação no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), como presidente do país, Dilma Rousseff foi enfática: aos empresários, sindicalistas, artistas e ativistas sociais que participam do chamado "Conselhão", reunidos no fim de abril, garantiu que estava atenta às pressões inflacionárias, mas não sacrificaria o emprego e o crescimento para combater a inflação. "É sempre melhor enfrentar os problemas do crescimento do que os problemas do desemprego, da falta de renda, da falta de investimento e da depressão econômica", afirmou.

Afinado, o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, garante que serão criados 3 milhões de postos de trabalho neste ano, bem acima da média de 1,9 milhão de novas vagas oferecidas anualmente desde 2003.

Essas são promessas difíceis de cumprir. O combate à inflação passa pela desaceleração econômica que, inevitavelmente, cobra seu preço em emprego. Vai ser, portanto, difícil para a presidente conciliar as duas promessas e para o ministro entregar as vagas anunciadas.

É o que já mostra a experiência deste ano. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho e Emprego, mostram a diminuição da oferta de postos de trabalho em comparação com 2010. Em abril, foram criadas 272,2 mil novas vagas com carteira assinada, menos do que as 305 mil de abril de 2010. No quadrimestre, surgiram 880,7 mil vagas, 81,6 mil a menos do que em igual período do ano passado.

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que também acompanham o mercado de trabalho, vão na mesma direção. De acordo com o IBGE, a taxa de desemprego no país veio em um crescendo neste ano depois de ter atingido o patamar recorde de baixa de 5,3% em dezembro. Subiu para 6,1% em janeiro, 6,45 em fevereiro e para 6,5% em março.

A desaceleração das atividades no comércio e na indústria de transformação teriam sido responsáveis pela menor oferta de emprego. Nesse ritmo, será difícil repetir o desempenho do ano passado e, mais ainda, chegar ao número prometido pelo ministro.

No ano passado foram criados 2,8 milhões de empregos, 6,9% a mais do que o estoque do fim de 2009. Desse total, 2,59 milhões têm carteira de trabalho assinada (celetistas) e o restante são servidores públicos estatutários. O desempenho do mercado de trabalho no ano passado foi bastante superior ao dos anos anteriores - a média anual de geração de empregos no governo Lula foi de 1,923 milhão de vagas - e resultado da reação do mercado à crise que começou em 2007 no exterior e atingiu mais duramente a economia do país em 2008 e 2009.

Não só o emprego mas também os salários cresceram. O rendimento médio dos trabalhadores formais teve um aumento real de 2,57%, tomando como referência o INPC, ao passar de R$ 1.698,35 em dezembro de 2009 para R$ 1.742,00 em dezembro de 2010. No período de 2003 a 2010, o rendimento médio dos trabalhadores apresentou um crescimento real de 21,29%, equivalente a uma média anual de 2,4% reais.

Entre os setores da economia, o de serviços registrou a maior geração de empregos, com 1,109 milhão de novos postos, com crescimento de 8,38%; seguido pelo comércio, com 689,3 mil empregos (8,96%), indústria de transformação, com 524,6 mil (7,13%), e a construção civil, com 376,6 mil postos (17,66%). Houve redução de empregos apenas na agricultura em função das atividades ligadas ao cultivo de laranja e cana-de-açúcar.

Durante o governo Lula, foram gerados 15,384 milhões de empregos, entre celetistas e estatutários, levando o número de trabalhadores formais no país a 44,068 milhões, de acordo com os dados mais recentes da Relação Anual de Informações Sociais (Rais). Esse desempenho representou um aumento médio anual de 1,923 milhão de empregos, com crescimento acumulado de 53,63% no período.

É inevitável a relação entre criação de emprego e desempenho da economia. No governo Lula, por exemplo, a média anual de crescimento do emprego foi de 5,51%, próximo do crescimento médio anual de 4,32% da economia no período. No ano passado, enquanto o emprego cresceu 6,9%, o PIB aumentou 7,5%. Como o crescimento do PIB deste ano esperado pelo próprio governo está entre 4,5% e 5%, não se deve omitir que o emprego deverá crescer menos.