Título: Planalto vê erro estratégico em reunião do conselho
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2011, Política, p. A6

O governo admitiu ontem que foi um erro estratégico marcar uma reunião do Conselho Político com a presidente Dilma Rousseff no mesmo dia em que as comissões permanentes da Câmara têm reuniões agendadas. A derrapada foi avaliada como mais uma prova clara da desarticulação política do Planalto desde a eclosão da crise envolvendo o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. Palocci foi convocado para prestar esclarecimentos na Comissão de Agricultura, mas conseguiu ganhar um prazo até terça-feira, quando o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS) dará o veredito sobre a questão. "Todo mundo sabe que as Comissões se reúnem às terças e quartas. Por que a reunião do Conselho Político não foi marcada para quinta-feira?", questionou um líder governista.

Além de saber com antecedência o risco que Palocci enfrentava nas comissões, a reunião de ontem era com a presidente Dilma, o que torna o erro ainda mais explícito: qualquer vitória da oposição reverberaria com mais força e qualquer derrota dos líderes da base seria acompanhada diretamente pela presidente. "Se era inevitável o encontro, pelo menos deveríamos ter reforçado as trincheiras no Congresso", lamentou um interlocutor do Planalto.

As contradições prosseguiram após o encontro, quando o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, acusou a oposição de ter dado "um golpe" na Comissão de Agricultura, ao colocar de forma açodada o requerimento para ser votado e não esperar que os parlamentares governistas se posicionassem sobre a questão. Mesmo assim, Luiz Sérgio afirma que o governo não tem medo de qualquer convocação do Parlamento. Mas acrescentou que a defesa de Palocci já está sendo feita no foro adequado: o Ministério Público Federal.

Durante reunião do Conselho Político, Palocci recebeu a solidariedade de líderes e presidentes de partidos aliados. O presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, reconheceu que o governo vive um momento de dificuldades e turbulências, mas afirmou que esse momento só será vencido com a união de todos. O líder do PP na Câmara, Nelson Meurer (PR), disse que a base aliada confia na inocência de Palocci e destacou a importância do chefe da Casa Civil para o bom funcionamento do governo federal.

Em vez de apresentar sua defesa perante os políticos que devem defendê-lo no Congresso, como fez durante o almoço com senadores do PT na quinta-feira, Palocci limitou-se a agradecer as manifestações de apoio com um sorriso e um aceno de mão.

O líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG), disse, após o encontro, que o deputado Anthony Garotinho (RJ), que chamou Palocci de "diamante de R$ 20 milhões" manifestou uma posição pessoal, não de partido. Em dois momentos ele ameaçou apoiar uma convocação de Palocci para prestar esclarecimentos na Câmara. No primeiro, queria pressionar o governo a abrir mão do kit anti-homofobia que seria distribuído nas escolas públicas. Agora, quer a aprovação da PEC 300, que equipara o salário de policiais e bombeiros aos vencimentos dos profissionais do Distrito Federal.

Palocci não compareceu ao almoço oferecido por Dilma ao PMDB. A presidente justificou a ausência afirmando que, no mesmo horário, o chefe da Casa Civil estava reunido com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo e da Defesa, Nelson Jobim, para discutir segurança nas fronteiras.