Título: Donos do dinheiro se aproximam de Marina
Autor: Almeida, Daniela
Fonte: Correio Braziliense, 15/08/2010, Política, p. 8

Candidata do PV é a que mais arrecadou doações de pessoas físicas, mas a maior parte desses apoiadores é formada por empresários simpáticos à causa verde

São Paulo Se há entre os presidenciáveis alguém que consiga se aproximar cada dia mais do empresariado brasileiro, esse alguém é a candidata Marina Silva (PV). Dos R$ 4,6 milhões arrecadados em pouco mais de um mês desde o início da campanha oficial, segundo a prestação de contas do partido ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), R$ 4,35 milhões (93,5%) vieram de doações de pessoas físicas. Mas o mecenato não vem do eleitorado comum e sim de empresários simpáticos à causa verde e ao discurso da senadora licenciada, recheado de práticas modernas de gestão empresarial. O montante arrecadado, segundo integrantes da campanha, só tende a aumentar.

Na avaliação do coordenador da campanha verde, João Paulo Capobianco, a arrecadação no primeiro mês ainda que tenha sido maior inclusive que o resultado registrado pela campanha do tucano José Serra (R$ 3,7 milhões) ainda é incipiente. Temos vários empresários, principalmente pessoas físicas, que sinalizaram valores e que já apresentaram até quando vão fazer esse aporte. Isso nos tranquiliza de que teremos recursos suficientes para fazer uma boa campanha. Não vamos passar vexame, diz.

Os doadores são pessoas próximas à alta cúpula verde e ao candidato a vice e presidente da Natura, Guilherme Leal. Ou seja, empresários que trabalham com a questão da sustentabilidade. Nas minhas relações, nas relações do Guilherme, são as pessoas que estão em volta que têm maior convívio com esse empresariado. Então, é natural que tenha uma maior abertura para isso. São meus amigos, amigos da Marina. Gente que ela nem conhecia antes da campanha e que estão cada vez mais amigos da proposta.

A candidatura Marina conta ainda com uma equipe de captação afinada, liderada por Leal e por Álvaro de Souza, ex-presidente do banco Citibank no Brasil e amigo dos tempos de colégio do candidato a vice. O time, sem contar com a presença da própria candidata nesse trabalho, já conseguiu a adesão de empresas do setor financeiro, do ramo de cosméticos e de papel e celulose.

Esforços nos bastidores à parte, a agenda de campanha de Marina tem sido repleta de compromissos envolvendo este nicho. Desde o 6 de julho, marco do pontapé oficial das campanhas, ela já esteve em um almoço organizado pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), formado por empresas que têm faturamento mínimo de R$ 200 milhões e respondem por 44% do Produto Interno Bruto (PIB) privado nacional, fez palestra e respondeu a perguntas em uma sabatina organizada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e encontrou empresários da Câmara Americana de Comércio (Amcham).

Na semana passada, no almoço promovido pela Amcham com cardápio recheado de ingredientes orgânicos, a candidata sentou-se ao lado do presidente da DuPont América Latina, Eduardo Wanick; do diretor financeiro da Odebrecht, Álvaro Novis; e de dirigentes da Câmara. Em coletiva à imprensa, após o almoço, Marina minimizou a proximidade com empresários. O que eu estou fazendo aqui é o que eu estou fazendo com os diferentes setores da sociedade.

A candidata, contudo, reconheceu o apoio que tem recebido. Talvez este seja o projeto que esteja mobilizando a contribuição de todos os segmentos. Ela disse ainda que o sistema de arrecadação pela internet, colocado sexta-feira no ar, já teria arrecadado mais de 400 doações, com uma média de R$ 80 por pessoa. Por causa de sua relação com o empresariado, Marina chegou a ser chamada de ecocapitalista pelo candidato do PSol Plínio de Arruda Sampaio durante o primeiro debate televisionado entre os presidenciáveis.

No dia 24, está marcado em um restaurante na Zona Sul de São Paulo um jantar para arrecadar mais recursos para a campanha verde. Estima-se que o convite para o evento custará de R$ 2,5 mil a R$ 3 mil. Na lista de convidados, artistas, representantes da alta sociedade paulista e, é claro, mais empresários.